Do fim-de-semana
O meu roupão cheira a bolos :)
Estive com um bebé de duas semanas ao colo.
E andámos (outra vez) a dançar na auto-estrada.
Por motivos de força maior, tive de banir durante uns tempos as calças com botões e/ou fecho do meu dress code e apostar em combinações alternativas. A Mãe, sempre muito opinativa, aproveitou todas as oportunidades para me mirar de alto a baixo e aprovar ou não a indumentária... e em 99% das vezes levei um rotundo chumbo da parte dela.
Perdi a conta ao número de ocasiões em que ouvi o já conhecido "Estás nua!!!", ao qual respondi sempre com "Estou... por baixo da roupa estou toda nua". A esse comentário juntou-se um igualmente frequente "Vêem-se as cuecas!!!", avaliação que me obrigou a ripostar "Vêem? Hmmm... achas que as tire?".
Mas a melhor das melhores veio depois.
Um destes dias, ia eu aperaltada com o tal dress code alternativo, abeirei-me da Mãe e ainda não tinha chegado a meio dos dois beijinhos do costume quando comecei a sentir o seu escrutínio implacável. Olhou, olhou, olhou, franziu a testa (ainda mais do que nas outras vezes), abanou a cabeça, benzeu-se interiormente e sentenciou, escandalizada:
- Isso não é uma saia! Isso é um tapa-vergonhas!!
PS - Para que conste, eu não ando nua na rua, nem com as cuecas à mostra. A Mãe é uma exagerada...
- Tiiiiiaaaaaa.... queres brincar mais com este boneco?
- Não.
- Só mais um bocadinho.
- Não.
- Só mais um bocadinho.
- Não.
- Só mais um bocadinho.
- ...só se disseres "se faz favor".
Sobrinha-mais-linda-do-mundo, que é acometida de um grave ataque de surdez sempre que falamos nos sefazfavores e nos obrigadas, olha para o boneco, parecendo hesitar. Após breves segundos, vira-me as costas, dirige-se à caixa dos brinquedos, tira de lá outra coisa e regressa para perto de mim:
- E com este, já queres?
Não foi o Natal com que sonhámos, mas, usando a expressão do Sr. Silva, foi o Natal possível.
Não falo da crise, das prendas, dos consumismos. Falo de pessoas. De calor humano. De gestos, pequenos, imensos. De coisas que não custam nada. A verdade, bem resumida, é que estivemos com quem quis, de facto, estar connosco.
Agora que penso nisso, não foi o Natal possível: foi o Natal real. Houve gargalhadas, fotos cómicas, conversas sérias, conversas sem sentido, brincadeiras, jogos, filmes, séries, passeios, telefonemas, abraços apertados, beijos demorados, olhares com mil significados, partilhas, coisas doces, saudades apertadas.
Houve, acima de tudo, amigos por perto (fossem família ou não). Um Natal real e, por isso mesmo, um Natal bom.
Eu (que não sou eu), agarrada a um saco de pão com a palavra "Pão" bordada: Mãe, como é que isto se faz?
Mãe: Isso é ponto pé de flor.
Eu (que não sou eu): Ponto de quem?!
Mãe: Ponto pé de flor.
Eu (que não sou eu): ...e do que é que estás à espera para mo ensinares, hmmm?!
A Mãe, preocupada com os doces que tencionamos oferecer no Halloween, foi a correr comprar-nos duas tabletes de chocolate de 200g.
Eu: Ó Mãe, isto assim não chega para todos...
Mãe: Eles dividem!
Eu: Mas isso assim é uma grande porcaria!
Mãe: Não é nada! Eles dividem entre eles!
Eu: E se forem vários grupos?
Mãe, já irritada: Não queres as tabletes, é?
Eu: ...quero... mas é para eu comer!
Mãe, em momento depressivo #1: Vocês, meus filhos, foram a melhor coisa que eu fiz...
Eu: Ó mãe, olha que este almoço também está mesmo muito bom!
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Mãe, em momento depressivo #2: Não sei se tenho sido a mãe que vocês gostavam...
Eu: Olha, eu também não. Não tenho outra, logo, não tenho termo de comparação.
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Mãe, em momento depressivo #3: Cheguei a ter medo de conduzir.
Eu: Eu todos os dias tenho medo de conduzir. Ao preço que a gasolina está, tenho mesmo muito medo.
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Mãe, em momento depressivo #4: Talvez na próxima reencarnação...
Eu: Como é que sabes que não vais reencarnar numa planta qualquer, ali exposta aos elementos, a abanar de um lado para o outro e a levar com cocó de pássaro em cima? O melhor é aproveitares agora.
A Mãe criou, sem ajuda, uma página no Facebook e compreendeu muito (mas mesmo muito!) mais depressa do que eu a dinâmica dos amigos, dos amigos dos amigos, das sugestões, das mensagens e dos convites.
É tão bom vê-los voar sozinhos, não é? :)