Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

outros dias

[dia] período de uma rotação terrestre; no plural, existência

Balanço(a) natalício

Janeiro 17, 2013

Não foi o Natal com que sonhámos, mas, usando a expressão do Sr. Silva, foi o Natal possível.

Não falo da crise, das prendas, dos consumismos. Falo de pessoas. De calor humano. De gestos, pequenos, imensos. De coisas que não custam nada. A verdade, bem resumida, é que estivemos com quem quis, de facto, estar connosco.

Agora que penso nisso, não foi o Natal possível: foi o Natal real. Houve gargalhadas, fotos cómicas, conversas sérias, conversas sem sentido, brincadeiras, jogos, filmes, séries, passeios, telefonemas, abraços apertados, beijos demorados, olhares com mil significados, partilhas, coisas doces, saudades apertadas.

Houve, acima de tudo, amigos por perto (fossem família ou não). Um Natal real e, por isso mesmo, um Natal bom.

Michael Phelps

Setembro 25, 2012

Já tínhamos feito uma série em crawl e estávamos naquele momento a meio de outra em costas. Cheguei à ponta da pista, onde o marido fazia uma pausa, e assim que emergi, diz-me ele assim:

- Tu fazes uma coisa que eu não consigo fazer.

Ora tendo em consideração que eu estava a nadar um estilo que, ao contrário de mim, o marido não gosta particularmente, pensei logo que vinha ali um elogio. Tirei os óculos para ouvir melhor, coloquei um grande sorriso inchado e perguntei:

- O quê?

Responde-me o marido, com um ar muito sério:

- Nadas costas em câmara lenta.

Ora bem, onde é que eu fiquei mesmo?

Janeiro 24, 2012

O Natal.

A ideia de só comprar prendas para as crianças foi cozinhada durante algum tempo e quando finalmente tomámos uma decisão, aproveitámos que o forno estava ligado e pusemos lá dentro as lembranças para os adultos... literalmente. Passei dois dias inteiros a fazer tabuleiros de biscoitos, que depois enfrasquei, etiquetei e embrulhei em sacos (mais um bocado e ficava com calos nas mãos de tanto puxar pela mola do dispara-biscoitos).

Como este ano havia o fator casa nova, fizemos também questão de ser os anfitriões de dois jantares de Natal… em dois dias seguidos. Cansaços à parte, a verdade é que o espaço e as condições que agora temos só fazem sentido quando partilhados com as pessoas de quem gostamos. Algumas tiveram dificuldade em perceber isso e tivemos mesmo de as ameaçar com uns quantos “Se não for cá em casa, não há Natal para ninguém!”.

No final, acabou por correr tudo bem. Numa das noites éramos treze à mesa (algo impensável na casa antiga) e podíamos facilmente sentar mais umas cinco ou seis pessoas. Haja pratos, talheres, copos e panelas grandes e daqui a nada estamos a organizar casamentos. Foi bom, todos gostaram e nós… bem, nós gostámos mesmo muito :)

A árvore de Natal, agora com um canto próprio na sala, só foi desfeita este fim-de-semana. Em toda a sua existência, nunca tinha tido os ramos completamente abertos, dado o espaço que roubava e os encontrões que sofria. O espartilhamento da dita era tal que as decorações que temos parecem subitamente pequenas e demasiado minimalistas.

O marido diz que ninguém se vai esquecer das nossas prendas e eu espero que não seja por terem ficado com uma valente dor de barriga…

Pela primeira vez em muitos, muitos anos, o Natal voltou a ter parte daquela magia que eu sentia quando era criança e acho que a diferença foi mesmo por termos conseguido dar um pouco de nós próprios àqueles que nos são próximos. Tudo o resto à parte, só por este Natal já valeu a pena termos trabalhado que nem uns lemmings obstinados para termos a casa nova pronta.

Fui levar choques e ver pilinhas

Agosto 24, 2011

As dores na mão esquerda levaram-me a um inesquecível exame chamado electromiografia, que consiste em, nada mais nada menos, do que dar “pequenos choques” nos nervos para ver a resposta dos músculos. Fui nervosa para o dito exame (ainda hoje não sei se a ortopedista estava a falar a sério quando me disse que não sabia o sítio onde davam os choques ou se tentava simplesmente não me assustar) e tratei logo de bombardear o médico com as minhas mariquices.

- Isto não dói, pois não? Avise-me quando me der os choques, sim? É que senão eu dou um salto aqui em cima da marquesa! E a parte das agulhas… olhe que eu não me dou bem com agulhas… caio para o lado!

Fui choramingando à medida que ele me ia metendo braçadeiras molhadas à volta do pulso, da mão e dos dedos, num crescendo de nervos. Quando o médico disse “Então aqui vai…”, senti apenas um pequeno formigueiro e pensei, desiludida, “Oh, só isto?!”.

Imediatamente a seguir, a mão começou aos saltos sozinha, como se fosse uma rã a fazer um sprint de duzentos metros. Eu esbugalhei os olhos, sem perceber se me doía ou não e depois… bem… depois foi o bom e o bonito.

O nervosismo (e os nervos) deram-me para a palhaçada e a cada choque que ele me dava eu respondia com um pulo com o corpo todo e desmanchava-me a rir. A mão parecia ter-se descolado do braço e andava por ali à desgarrada, aos pinotes. Quantos mais choques ele me dava, mais eu me ria.

- Inesquecível… como um concerto do Tony Carreira, dizia o médico.

E foi.

No fim, perguntei-lhe se, com tanta electricidade, eu podia trabalhar ao computador sem o avariar.

- Não convém, não… e também não deve beber água nem sumos, porque depois sai pelos buraquinhos da picada da agulha.

Alguns dias depois, aproveitando que o resultado oficial ainda era desconhecido e antes que me condenassem a algo parecido com a sentença que o Google já me deu (médico cruel, este...), fui pedalar com o marido. Uma determinada parte do percurso foi feita à beira mar, numa zona sem acesso pela estrada e que, convidando ao recato, costuma estar repleta de banhistas literalmente despidos de preconceitos. Apesar de sabermos o que nos esperava (volta não volta fazemos aquele trajecto), passar ali é sempre uma aventura.

O marido, mais treinado das pernas, ainda conseguiu aproveitar alguma coisa do passeio e de vez em quando lá se divertia a olhar discretamente para as movimentações estranhas que se passavam nas dunas. Eu, por outro lado, ia contando as conchas no chão enquanto me esforçava desesperadamente por não me despistar em frente a um pipi desnudado ou, pior ainda, a uma pilinha bamboleante.

Não pensem que eram pruridos devidos à inexistência de uma camuflagem cobrindo as zonas genitais, ali tão gloriosamente expostas ao sol. O meu caso era mais grave que isso – diria mesmo que era um problema de ameaça pública. Vejamos os factos:

1 - a maré estava alta e a areia pouco propícia ao pedalanço sem quedas;

2 - as pilinhas bamboleantes estavam presentes num número bastante elevado e espalhadas um pouco por todo o lado.

Ora se eu escorregasse, no desequilíbrio entre pedais, volante, capacete, braços e pernas, o mais certo era acabar por me tentar agarrar ao que estivesse mais à mão. E, convenhamos, agarrar-me assim, a seco, à pilinha alheia seria, no mínimo, chato (já para não dizer doloroso para o proprietário da mesma).

A ajudar tudo isto, a minha cabeça, por sua própria iniciativa, ia cantarolando “Ó mar, ó mar, ó mar / Ó mar dos tubarões / Ó mar, ó mar, ó mar / Que já me dás pelos… tornozelos”.

 

 

 

 

Lembrem-se que eu tinha levado choques e estava mentalmente perturbada.

Praia

Maio 26, 2011

Ontem molhei as mãos no mar e se mais tempo houvesse, teria lá deixado o meu corpo também. O céu manchava-se de flocos brancos, raiados a ouro sobre a linha do horizonte. Ao longe, tractores puxavam as esperanças de pescadores e de gaivotas. No ar dançavam sons de crianças e surfistas, embalados pelo cantar manso das ondas. Sob os meus pés, minúsculas conchas entrelaçavam-se com grãos de areia e traziam-me arrepios parecidos com a espuma branca das marés. À beirinha da água, o calor dos teus braços preenchia-me a pele e nos lábios saboreava as histórias que ainda temos por contar. Cheirava a sal, a barcos, a sonhos.

Ontem molhei as mãos no mar e foi quase perfeito.

Querido, fizemos uma casa #4

Março 30, 2011

A cozinha e a lavandaria são os locais onde tenho passado mais tempo, por querermos que fiquem totalmente operacionais o mais rapidamente possível.

Tenho, finalmente (repito, f-i-n-a-l-m-e-n-t-e!!!), uma arca congeladora vertical. Mais: tenho uma arca congeladora vertical que não faz gelo! Apesar de ser mais generosa em litros do que a anterior, que era horizontal, as possibilidades de arrumação são menores porque está tudo em gavetas. Para mim é uma vantagem, já que assim consigo organizar melhor os vários tipos de congelados e não sou obrigada a mergulhar a cabeça dentro de um iceberg para encontrar o que quero. Acabou-se o medo de cair lá para dentro e só ser encontrada várias horas depois, conservadinha e fresquinha como um medalhão de pescada.

A máquina da loiça foi colocada 35 cm acima do chão. Acreditem que, aqui, o tamanho importa mesmo. Já não temos de nos dobrar para meter ou tirar os pratos e passámos a trabalhar a um nível verdadeiramente ergonómico sem que fosse preciso optar por uma máquina de encastrar. Trinta e cinco centímetros foi a medida certa (que o digam os homens das mudanças que se viram e desejaram para a deixar no sítio...).

A conduta para a roupa suja tem feito sucesso, entre nós, habitantes, e entre todas as pessoas que lá foram. É só atirar por ali abaixo as roupagens e... abrir a porta do armário da lavandaria e levar de repente com uma pilha de roupa inesperada em cima. Esta parte ainda tem de ser melhorada, provavelmente arranjando um cesto tamanho XXXL, um tubo de pano ou algo semelhante. Mas o tratamento da roupa sofreu um upgrade parcial em divertimento.

Igualmente divertida, ou, pelo menos, não tão aborrecida, tem sido, para já, a aspiração da casa. Com poucas mobílias espalhadas, as loiças sanitárias montadas na parede, os roupeiros encastrados e algumas paredes forradas com estantes, em três tempos conseguimos dar uma limpeza por alto naquilo tudo arrastando "apenas" uma mangueira. Sublinho o "apenas" porque aquilo é uma verdadeira centopeia gigante que se está sempre a enrolar sobre si mesma... mas pronto... espero que seja uma questão de tempo e de jeito.

Fora da casa propriamente dita, falta falar do ser peludo-que-vive-connosco. O bicho mudou-se no dia a seguir a nós. Demos uma volta com ele para conhecer os cantos e não sei se foi pelas luzes, pelos vidros das guardas ou pela agitação natural dele, mas ao fim de 10 minutos cometeu a proeza de se atirar pelas escadas do quintal em grande voo... aterrou de queixo, guinchou, levantou-se e continuou a correr como se fosse um cabrito. Enfim. É o ser-peludo-que-vive-connosco e já devíamos estar habituados a estas cenas... Tirando isso, chia como sempre e, como sempre, só quer é estar perto de nós e fazer-nos fintas com a bola na boca; o sítio onde estamos é-lhe indiferente, temos é de estar todos juntos :)

Querido, fizemos uma casa #3

Março 29, 2011

Na cozinha, as cubas do lava-loiça parecem dois poços. São demasiado fundas para conseguir, por exemplo, lavar os legumes sem ficar com dores nas costas. Mas são perfeitas para esconder a loiça suja de uma semana inteira sem que se note sequer a pontinha uma colher a surgir à superfície (não é que eu o faça, mas...).

A placa de indução é das coisinhas electrónicas mais maravilhosas em que mexi nos últimos tempos. Acabou-se o cheiro a gás, acabou-se o descontrolo com os tempos de cozedura, acabaram-se os trinta minutos de espera até que a panela da sopa comece a ferver. Tinham-me dito que iria demorar uma semana a habituar-me à bicha, mas nem um dia levei. Assustaram-me com histórias de comida queimada, de me remediar com sandes para o jantar e de pessoas que tinham desistido daquilo e voltado ao tradicional fogão a gás. Eu, que sou estranha, não quero outra coisa desde o primeiro instante em que lhe pus as mãos e os tachos em cima.

Abençoado seja também o dia em que decidimos meter piso radiante. Mesmo, mesmo, mesmo. Onze anos a viver com frio, humidade, ataques de tosse e de alergias desconhecidas bastaram para nunca mais querer igual!

As casas de banho parecem salões de baile. A sério. Nenhum de nós gosta de andar aos encontrões no wc mas acho que exagerámos um bocadinho nas dimensões que exigimos ao arquitecto...

Dizem-nos que também exagerámos em armários e roupeiros mas até agora não nos queixamos disso. Espaço para arrumar tralhas é o que é mais preciso. Achávamos que tínhamos meia dúzia de coisas na casa antiga e que a mudança ia ser rápida e pacífica, mas a verdade é que quantos mais armários esvaziamos, mais tralha parece nascer espontaneamente lá dentro. A carrinha das mudanças foi cheia e ainda ficaram quatrocentas e vinte e oito mil coisinhas para trás. Temos levado os caixotes aos poucos, mas mais tarde ou mais cedo já sei que nos vai dar a fúria e o que tiver sobrado vai implacavelmente parar ao contentor do lixo sem passar por qualquer triagem.

Para encher as paredes que não estão ocupadas com os tais armários e roupeiros ou com as janelas (onde também exagerámos) recorremos, claro está, à IKEA e aos seus espectaculares sistemas-de-estantes-aka-puzzles-de-madeira-e-derivados-elaborados-com-alguns-requintes-de-malvadez. Sigo regularmente este e este sites mas vou deixar a modéstia de lado e atribuir a mim mesma o prémio de maior fã da IKEA: ainda não vi ninguém que tenha desenhado uma parede de uma divisão da casa a contar com as dimensões da mobília sueca que lá queria montar (sim, eu fiz isso em planta e certifiquei-me, em obra, que as medidas eram as correctas).

Até agora o que mais impressão me faz é mesmo o eco. A mobília é pouca e ainda não temos tapetes (sem serem os da porta da entrada) nem cortinas (os varões já lá estão, à espera de serem montados), pelo que qualquer conversa em divisões diferentes soa a grunhidos dentro de um barril distante. 

Temos adormecido sempre cansados e lá para as tantas (a troca da hora não veio ajudar mesmo nadinha...). Há sempre, sempre coisas para fazer e a mim dá-me comichões ver os mesmos caixotes no mesmo sítio durante muito tempo. Mas aos poucos a coisa vai :)

Querido, fizemos uma casa #2

Março 29, 2011

Parece que estamos num hotel. É tudo novo, cheira a madeiras e àquele pó das obras recentes. Espantamo-nos com os espaços, a temperatura interior, a luz, os sons. Descobrimos os cantos e recantos, a concretização palpável do que imaginámos durante tanto tempo. Sentimo-nos em estado de semi-euforia por ali estar e dali não nos apetece sair. Ainda nada é garantido mas, para já, estamos contentes e isso - isso - já ninguém nos tira.

Aproxima-se finalmente a meta

Março 11, 2011

Dois anos depois, já nos atrevemos a não chamar obra à quase-casa-nova.
Os últimos sete dias foram de intensa correria, jantares à meia-noite, olheiras, poucas horas de sono, muitas estantes IKEA montadas e muitos furos na parede. E muito, muito, muito cansaço feliz. Ainda não terminámos tudo (para dizer a verdade, a lista nem a meio vai) e não sabemos quando será a mudança oficial. Mas a quase-casa-nova já cheira a casa.

Take me away

Agosto 16, 2010

Há exactamente duas semanas que aquilo a que oficial e corriqueiramente chamamos de férias terminaram. No final desses quinze dias úteis seguidos, perguntaram-me se foram “boas” e eu dei por mim a enrolar as frases e sem saber, sinceramente, o que responder.

Não quero usar a palavra fracasso, mas é a única que me ocorre.

Tentando olhar para o lado positivo das coisas (se é que ele existe...), posso dizer que passei por experiências novas, as tais que são supostamente enriquecedoras. A verdade é que preferia não ter de o ter feito, principalmente porque foi praticamente inútil. Os dias acabaram por passar sem que deles resultasse algo que agora me fizesse sentir que tinha valido a pena. Isso desanimou-me um bocado e deixou-me com a sensação de preciso-urgentemente-de-férias-a-sério

A praia, o meu grande refúgio e carregador de baterias, presenteou-me com bandeiras amarelas e vermelhas das poucas vezes que lá consegui ir. Não dei um único mergulho no mar (vinguei-me ontem e soube-me a pouco).

Com muita, muita, muita pena minha, também não pude estar com os amigos (nem sequer com os “marinheiros”). E tenho saudades.

A casa nova, um dos nossos projectos-maiores, não ficou pronta (seria em Julho do próximo ano?). Apesar de tudo, embora não pareça, o construtas-man ainda não desistiu de nós... nós é que já estamos cansados.

Sei que daqui a uns tempos sou capaz de reler isto e pensar “estava mesmo parva”, mas é o melhor que se arranja por agora. Não me apetece propriamente escrever (ou lamentar-me, o que, neste momento, é quase a mesma coisa), mas cá estou eu, trying and smiling as always :)

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.