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outros dias

[dia] período de uma rotação terrestre; no plural, existência

Michael Phelps

Setembro 25, 2012

Já tínhamos feito uma série em crawl e estávamos naquele momento a meio de outra em costas. Cheguei à ponta da pista, onde o marido fazia uma pausa, e assim que emergi, diz-me ele assim:

- Tu fazes uma coisa que eu não consigo fazer.

Ora tendo em consideração que eu estava a nadar um estilo que, ao contrário de mim, o marido não gosta particularmente, pensei logo que vinha ali um elogio. Tirei os óculos para ouvir melhor, coloquei um grande sorriso inchado e perguntei:

- O quê?

Responde-me o marido, com um ar muito sério:

- Nadas costas em câmara lenta.

Shame on me

Outubro 15, 2009

Quero vir aqui, publicamente, pedir desculpas à senhora de idade que esteve na mesma pista da piscina que eu. Aquele murro na cabeça foi mesmo sem querer!!! Eu respeito profundamente as senhoras (e os senhores) de idade que vão para as piscinas mesmo quando não sabem nadar. De verdade.

Peixa

Outubro 22, 2008

Ontem voltei para o meu jacuzzi semi-olímpico.

Os braços pesaram-me. O rabo flutuou sozinho. As pernas pareciam varas imóveis.

Caneco. Eu não era assim.

Quando me iniciei nas artes natatórias, aí pelos meus 9, 10 anos, detestei a coisa. Era sempre aos sábados, depois de um almoço de iscas com puré de batata. A piscina era-me enorme, funda, com água a mais. Sempre que entrava em estado de pré-afogamento, a monitora mandava-me fazer sorrisos amarelos e continuar a tentar. A mim só me apetecia chorar e fugir dali para fora (o que acabei por fazer).

Anos mais tarde, decidi que a água não iria ser mais forte do que eu e meti-me outra vez na natação. Aprendi a nadar como deve de ser, a controlar a respiração, a fazer apneia, a aperfeiçoar o meu sentido cinestésico. E fui passando de nível, passando de nível, passando de nível... até chegar ao ponto de o meu monitor me querer encaminhar para a competição. Na altura, estava no pico da minha relação com a mixórdia de H2O e Cl. Toda eu era água, cloro, braçadas, cambalhotas, viragens, metros e metros de estilos sem parar.

Mas não quis. Ou melhor, quis, mas, por causa da Faculdade, sabia que não tinha tempo.

Hoje, em que nado de forma mais ou menos contínua, já não tenho nem metade da pedalada dos meus tempos áureos. Fazer os 25 metros debaixo de água é motivo de festa para um mês inteiro.

Tenho pena de não conseguir mais.

Mas o que consigo sabe-me tão bem...

(e ontem reparei que as torneiras dos duches são da mesma marca que aquelas que queremos pôr na casa nova )

Placenta

Junho 21, 2006

Lanço-me à água, recordando sensações. É como um regresso ao casulo, protegido, confortável, aquecido. Estou cansada, mas aquilo é mais forte. Dissolvo-me entre moléculas de hidrogénio e oxigénio (duas para uma... que interessa isso agora?) e esqueço-me de mim.

Não demoro muito a perceber que tenho silvos instalados nos ouvidos. Incomodam-me, porque não passam. Sou obrigada a sair, a recolher quase à pressa os meus pedaços. Perturbada, reconheço que talvez tenha mesmo de deixar passar algum tempo até lá poder voltar.

E isso entristece-me.

Há lodo no cais

Maio 19, 2006

Eu não sou nenhuma atleta (nem de competição nem de coisa nenhuma). Eu canso-me e também paro. Mas compreendo e tenho interiorizado o significado de "Nade em circuito nado lento" e "Nade em circuito nado rápido". E tenho pena que algumas pessoas não entendam a diferença entre estes dois conceitos. Enquanto não o conseguirem, vão continuar a levar comigo, a apanhar sapatadas, pontapés e encontrões. Alguns sem querer, outros propositadamente acidentais.

[Irritam-me solenemente pessoas que, mesmo estando a ser constantemente atropeladas pelos outros utilizadores, estacionam a meio da pista supostamente de nado rápido, em amena cavaqueira com o vizinho do lado ou com alguém que está nas bancadas, sobre férias, cães e sei lá mais o quê.]

Propulsão

Maio 16, 2006

Das braçadas que se repetem, sempre em auto-avaliação. O arranque, molengão, desajeitado, demorando minutos para fazer segundos, a aquecer, a aquecer, deixando para trás o (breve) arrepio provocado pelo diferencial de temperaturas.

E o cansaço a esfumar-se e uma sensação de poder, de invencibilidade a tomar conta do corpo, em respiração sincronizada de vaivém, óculos embaciados piscina após piscina, após piscina, após piscina.

E às vezes mergulhar, sustendo o fôlego, tentando alcançar o outro lado de uma só penada. E é como se eu fosse da água e a água fosse de mim e nem precisasse mais de vir à tona buscar ar e tudo ali me chegasse e completasse.

E quando todos saem, extenuados ou preguiçosos, e fico sozinha para lá ser senhora (ou criança).

E nos momentos, em contínuo, em que podia despir-me e tirar a pele e nada seria estranho, apenas mais do mesmo, igual, peças de um único puzzle, encaixadas, perfeito, perfeitas.

E depois, no duche, quando o calor me toca nas costas, nos músculos ainda tensos, fervilhantes, e me ensaboo, o peito a abandonar a respiração acelerada e os olhos quase exaustos, tranquilos, momentaneamente felizes.

E aquela dormência que fica, o cheiro do cabelo molhado e a ponta dos dedos enrugada, e a calma, tanta calma, e o silêncio de quando deixa de existir mundo fora dali e é isto que perdura, é isto que guardo.

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