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outros dias

[dia] período de uma rotação terrestre; no plural, existência

Chega depressa, Primavera!

Outubro 09, 2012

Não gosto desta altura do ano. Não me entendam mal: não tenho nada contra o aconchego das mantinhas e dos chocolates quentes, o chão forrado a folhas castanhas e crocantes, o cheiro a castanhas assadas. Muito pelo contrário. É que o Outono obriga-me a adiar as saídas de bicicleta ao fim do dia por não haver luz suficiente. É chato pedalar às escuras.

À falta de algo melhor que substitua os quilómetros de fisioterapia sobre duas rodas (a ver se as dores nas costas abrandam), sou obrigada a agarrar-me à maquineta elíptica que tenho por casa. Ao som de um rádio fanhoso parado numa estação estranha, com a cabeça a pensar em mil e uma coisas, lá terei eu de me sujeitar a meia hora sofrida a suar quase em bica.

Apesar de já não andar há não sei quantos meses naquela coisa, sei que continua a ser igualzinho: o tempo leva eternidades a passar, não há paisagem para apreciar, nem subidas pejadas de calhaus para ultrapassar, nem poças de lama onde cair, nem cães raivosos dos quais fugir, nem sítios com bolas de berlim onde parar, nem arbustos com cardos para onde nos atirarmos, nem arranhões, esfoladelas ou nódoas negras para fazer, nem nada.

Em suma: pedalar em casa é uma grande, grande seca!

:)

Agosto 01, 2012

Desculpem a ausência de notícias, mas quase que nem sei o que é um computador. Ando demasiado ocupada a mimar a sobrinha-mais-linda e a alimentar a minha bicla com (muitos) quilómetros.

Ou então depeno-te as asas

Outubro 21, 2011

S. Pedro, amigo, há um momento, temido em qualquer relação, em que um dos intervenientes profere as terríficas palavras "Temos que conversar...". Pois é chegado esse momento entre nós os dois.

S. Pedro, temos que conversar.

S. Pedro, chegou-me aos ouvidos que tencionas fazer chover este fim-de-semana. Mas não é uma chuvinha qualquer. É um temporal. Quilolitros e quilolitros de água. Gigas, teras, petas de chuva. Não pode ser, S. Pedro. O fim-de-semana é aquele período entalado entre horas seguidas a aturar gente doida e manienta, telefonemas irritados, prazos impossíveis, dores de cabeça de origem variada e maus-humores de manhã à noite. Esta tortura dá-me carências, S. Pedro. E eu careço de andar de bicicleta, actividade que é pouco conciliável com a molha que pretendes mandar cá para baixo. Por isso, meu querido anjinho, faz-me lá o favor de mudar de planos e eu serei tua para todo o sempre, sim?

Agradecida.

Fui levar choques e ver pilinhas

Agosto 24, 2011

As dores na mão esquerda levaram-me a um inesquecível exame chamado electromiografia, que consiste em, nada mais nada menos, do que dar “pequenos choques” nos nervos para ver a resposta dos músculos. Fui nervosa para o dito exame (ainda hoje não sei se a ortopedista estava a falar a sério quando me disse que não sabia o sítio onde davam os choques ou se tentava simplesmente não me assustar) e tratei logo de bombardear o médico com as minhas mariquices.

- Isto não dói, pois não? Avise-me quando me der os choques, sim? É que senão eu dou um salto aqui em cima da marquesa! E a parte das agulhas… olhe que eu não me dou bem com agulhas… caio para o lado!

Fui choramingando à medida que ele me ia metendo braçadeiras molhadas à volta do pulso, da mão e dos dedos, num crescendo de nervos. Quando o médico disse “Então aqui vai…”, senti apenas um pequeno formigueiro e pensei, desiludida, “Oh, só isto?!”.

Imediatamente a seguir, a mão começou aos saltos sozinha, como se fosse uma rã a fazer um sprint de duzentos metros. Eu esbugalhei os olhos, sem perceber se me doía ou não e depois… bem… depois foi o bom e o bonito.

O nervosismo (e os nervos) deram-me para a palhaçada e a cada choque que ele me dava eu respondia com um pulo com o corpo todo e desmanchava-me a rir. A mão parecia ter-se descolado do braço e andava por ali à desgarrada, aos pinotes. Quantos mais choques ele me dava, mais eu me ria.

- Inesquecível… como um concerto do Tony Carreira, dizia o médico.

E foi.

No fim, perguntei-lhe se, com tanta electricidade, eu podia trabalhar ao computador sem o avariar.

- Não convém, não… e também não deve beber água nem sumos, porque depois sai pelos buraquinhos da picada da agulha.

Alguns dias depois, aproveitando que o resultado oficial ainda era desconhecido e antes que me condenassem a algo parecido com a sentença que o Google já me deu (médico cruel, este...), fui pedalar com o marido. Uma determinada parte do percurso foi feita à beira mar, numa zona sem acesso pela estrada e que, convidando ao recato, costuma estar repleta de banhistas literalmente despidos de preconceitos. Apesar de sabermos o que nos esperava (volta não volta fazemos aquele trajecto), passar ali é sempre uma aventura.

O marido, mais treinado das pernas, ainda conseguiu aproveitar alguma coisa do passeio e de vez em quando lá se divertia a olhar discretamente para as movimentações estranhas que se passavam nas dunas. Eu, por outro lado, ia contando as conchas no chão enquanto me esforçava desesperadamente por não me despistar em frente a um pipi desnudado ou, pior ainda, a uma pilinha bamboleante.

Não pensem que eram pruridos devidos à inexistência de uma camuflagem cobrindo as zonas genitais, ali tão gloriosamente expostas ao sol. O meu caso era mais grave que isso – diria mesmo que era um problema de ameaça pública. Vejamos os factos:

1 - a maré estava alta e a areia pouco propícia ao pedalanço sem quedas;

2 - as pilinhas bamboleantes estavam presentes num número bastante elevado e espalhadas um pouco por todo o lado.

Ora se eu escorregasse, no desequilíbrio entre pedais, volante, capacete, braços e pernas, o mais certo era acabar por me tentar agarrar ao que estivesse mais à mão. E, convenhamos, agarrar-me assim, a seco, à pilinha alheia seria, no mínimo, chato (já para não dizer doloroso para o proprietário da mesma).

A ajudar tudo isto, a minha cabeça, por sua própria iniciativa, ia cantarolando “Ó mar, ó mar, ó mar / Ó mar dos tubarões / Ó mar, ó mar, ó mar / Que já me dás pelos… tornozelos”.

 

 

 

 

Lembrem-se que eu tinha levado choques e estava mentalmente perturbada.

Ciclocoisas

Julho 01, 2010

[imagem daqui]

De há uns dois ou três anos para cá que andar de bicicleta se tornou uma actividade muito in, muito divulgada, muito praticada, muito tudo e tudo e tudo. Os preços baixaram, a oferta é maior e, sobretudo, é um desporto fixe e boa-onda. Aos fins-de-semana, é vê-los a passar, em grupos equipados de igual, de camelbaks atestadas e gps reluzentes, a percorrer essas estradas e esses montes. Aplaudo-os a todos e a todas as iniciativas relacionadas, já que pode ser que assim os ciclistas passem a ser mais respeitados e se criem ciclovias dignas desse nome um pouco por todo o país.

Para além do ambiente, companheirismo e solidariedade que se vive entre quem pratica esta actividade, existe um código de conduta inerente, do qual fazem parte as regras básicas de cidadania e coisas como cumprimentar os outros pedaleiros ou incentivar os que ameaçam ficar para trás ou desistir.

E existem também as aves-raras.

No outro dia, eu e o marido regressávamos da praia, cada um sobre as respectivas duas rodas, quando, na parte mais tortuosa do percurso (800 metros de subida íngreme), passa por nós, em sentido contrário, um ciclista solitário, todo pimpão e lampeiro, fresco que nem uma alface. Eu e o marido, a deitar os bofes pela boca, demos-lhe os bons dias, ao que ele retrucou, alto e esganiçadamente:

- Então, coméqué?!

Não fosse a minha falta de fôlego e necessidade de concentração absoluta para conseguir chegar minimamente viva ao topo da ribanceira, tinha-lhe respondido:

- É grande e grossa, pá! Grande e grossa!

Sair do sofá

Outubro 21, 2008

Ao fim-de-semana, retiram-se as bicicletas do suporte de parede, almofadam-se os rabos o mais possível e sai-se de casa sobre duas rodas, imbuídos do mais puro desejo de fazer coisas saudáveis.

Este domingo foi assim. Estrada, mato, areia (mais um pé - calçado - encharcado em água salgada e conchas pequeninas metidas no meio dos dedos). Árvores dobradas pelo vento e nós a passar, pedalando. Pedras deitadas ao sol e nós a passar, pedalando. Pessoas em esplanadas servidas por refrescos, cafés e vista para o mar e nós a passar, pedalando.

No regresso, quase a atingir os vinte quilómetros pedalados e à beira de um colapso muscular, lembrei-me das árvores, das pedras e das pessoas nas esplanadas e perguntei:

- Tens a certeza que isto faz bem à saúde?

Mais outro que acha que as coisas têm de ter, forçosamente, uma longevidade muito curta

Agosto 12, 2008

No fim-de-semana, fui afinar as mudanças da bicicleta. O desviador dianteiro, fruto sei lá de que amuo, deixou de passar a corrente para o carreto maior, ficando-se pelos dois outros, mais fraquinhos (isto sou eu a armar-me em boa, que só uso as mudanças pesadas nas rectas com inclinação… para baixo).

 

À minha explicação “começou a fazer isso de um momento para o outro”, o senhor da oficina respondeu:

 

- Até me espanta que, ao fim de 15 anos, as mudanças funcionem sequer.

 

Fiquei a olhar para ele, sem saber se aquilo era uma nova técnica de venda, uma possível oferta de uma bicicleta nova ou, simplesmente, gozo. Consegui abster-me de fazer qualquer comentário, uma vez que o pobre coitado não chegou a conhecer o meu primeiro ferro de engomar.

Lagoa de Albufeira "bike tour"

Junho 11, 2007

Trinta e seis quilómetros e meio, saídos deste corpinho e percorridos em cima de duas rodas movidas à força do pedal.

Um escaldão nos braços (apesar do factor 30 do protector solar...) e dores inimagináveis na assentadeira.

Abertura da época balnear 2007, com vento, água gelada, arrepios e coragem e loucura q.b. para mergulhar.

Pinheiros, cheiros e sons que devíamos ter todos os dias.

Uma "bike tour" a quatro que fica para a história. Sem dúvida, para repetir.

MUITO, MUITO bom!

Ciclovi(d)a

Agosto 24, 2006

Ao voltar da praia, rio-me com o espanto dos vizinhos:

- Foste à praia... de BICICLETA?!?!?

Ir e vir, por atalhos, não chega sequer a 10 km. A ida faz-se muito bem, é quase sempre a descer. O regresso... bom, o regresso faz-se mais devagar, as pernas já estão cansadas, sente-se o sal a queimar a pele, leva-se areia dentro dos ténis... Mas há ali uma comunhão comigo mesma que não consigo em mais lado nenhum. E isso vale por todas as subidas que enfrento pelo caminho.

(aparte mauzinho: o espanto parece ser proporcional ao tamanho da barriga neles e à altura dos saltos nelas)

Dominó

Agosto 23, 2006

Não vale a pena tentar camuflar a coisa e dizer que era "apenas cansaço" ou "desânimo" ou qualquer outro sinónimo tirado da mesma gaveta das verdades absolutas: arrastei-me para as férias com um princípio de depressão. Princípio de depressão e ponto final.

Ao fim de metade das possíveis quatro semanas fora do ambiente habitual, consegui esquecer-me-los. Isolei-me em mim e de mim, trancando do lado de fora o mundo, as pessoas, os sentimentos, a tristeza, a ansiedade, o desamparo. Depois de quatro semanas vencidas, regressei ao quotidiano, agarrando-me como uma junkie à tranquilidade e ao cimento com que colei os meus bocados. Receei ser, passados três dias, novamente chutada para a casa Partida. Os três dias ainda não terminaram, mas até ao momento, mantenho-me em jogo. Não me saiu mais nenhum "doble" e o cimento já tem algumas rachas, mas cá vai resistindo. Apertado, junto ao coração, na esperança que supere todas as provas.

Das férias guardo o sol a pôr-se, vermelho vivo, na planície estendida sob os meus olhos. Guardo os ténis sujos de pó dos caminhos, os calções amarrotados e os tótós no cabelo. Guardo as horas esquecidas, os equilibrismos na bicicleta com 40 graus à sombra e as fotografias sempre a tiracolo. Guardo os pés descalços, o fato-de-banho a secar nas costas da cadeira e o húmido da maresia. Guardo os amigos, as gargalhadas e a preguiça das sestas. Mas guardo, sobretudo, os sorrisos que ouvi de mim. E espero conseguir lembrar-me deles durante muito, muito tempo.

Efemérides

Junho 14, 2006

Confirmando todas as previsões e correspondendo a todas as expectativas, 10 de Junho foi dia de Camões, de Portugal, das Comunidades Portuguesas e de abertura da época balnear 2006. E de bicicleta, como se gosta.

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