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outros dias

[dia] período de uma rotação terrestre; no plural, existência

O bom, o mau e o assim-assim

Junho 15, 2012

As notícias e as opiniões que nos chegam trazem consigo uma botija de oxigénio que sorvemos inteira para dentro do peito. São momentos avassaladores, medidos em gráficos cheios de extremos. Rimos e choramos. Não há nexo, porque não é preciso que haja nexo. Corpo e mente agitam-se de forma descoordenada, como quando empurramos algo muito pesado que de repente nos escapa das mãos e ficamos a fazer força no vazio.

Face ao mau, o assim-assim parece-nos ser bom.

No preciso micro-segundo em que interiorizamos esse facto, apercebemo-nos o quão imensa era a carga invisível que há vários meses nos esmagava os ombros.

Strengthness

Maio 16, 2012

Há coisas que nos abalroam a grande velocidade, subitamente, saídas de onde menos esperamos. Coisas que nos derrotam, que nos fazem inundar o mundo com lágrimas e questionar as respostas, as perguntas, os silêncios. Tudo se transforma num labirinto, numa cadeia de acontecimentos, de causas e efeitos, de pontos de interrogação, de reticências, de vírgulas, de pausas. Instala-se uma dormência que achamos que nunca vai passar e deixamo-nos arrastar para tão, mas tão longe que duvidamos ser possível, algum dia, regressar do sítio para onde fomos empurrados.

Mas o ser humano é verdadeiramente extraordinário e, por entre o caos, sem sabermos como, lá arranjamos forma de rodear ou ignorar os obstáculos e quando damos por nós, estamo-nos a rir, meio enlouquecidos, de toda a trampa que nos vai acontecendo. A meio do dia, sozinhos ou acompanhados, no banho, a lavar os dentes, a pedalar, a estender a roupa, libertamos descaradamente gargalhadas quase histéricas e acreditamos, por momentos, que, seja o que for, havemos de lhe sobreviver. E por momentos, conseguimos, enfim, voltar a respirar, seja aos soluços, seja engolindo gigantescas golfadas de ar.

Fui levar choques e ver pilinhas

Agosto 24, 2011

As dores na mão esquerda levaram-me a um inesquecível exame chamado electromiografia, que consiste em, nada mais nada menos, do que dar “pequenos choques” nos nervos para ver a resposta dos músculos. Fui nervosa para o dito exame (ainda hoje não sei se a ortopedista estava a falar a sério quando me disse que não sabia o sítio onde davam os choques ou se tentava simplesmente não me assustar) e tratei logo de bombardear o médico com as minhas mariquices.

- Isto não dói, pois não? Avise-me quando me der os choques, sim? É que senão eu dou um salto aqui em cima da marquesa! E a parte das agulhas… olhe que eu não me dou bem com agulhas… caio para o lado!

Fui choramingando à medida que ele me ia metendo braçadeiras molhadas à volta do pulso, da mão e dos dedos, num crescendo de nervos. Quando o médico disse “Então aqui vai…”, senti apenas um pequeno formigueiro e pensei, desiludida, “Oh, só isto?!”.

Imediatamente a seguir, a mão começou aos saltos sozinha, como se fosse uma rã a fazer um sprint de duzentos metros. Eu esbugalhei os olhos, sem perceber se me doía ou não e depois… bem… depois foi o bom e o bonito.

O nervosismo (e os nervos) deram-me para a palhaçada e a cada choque que ele me dava eu respondia com um pulo com o corpo todo e desmanchava-me a rir. A mão parecia ter-se descolado do braço e andava por ali à desgarrada, aos pinotes. Quantos mais choques ele me dava, mais eu me ria.

- Inesquecível… como um concerto do Tony Carreira, dizia o médico.

E foi.

No fim, perguntei-lhe se, com tanta electricidade, eu podia trabalhar ao computador sem o avariar.

- Não convém, não… e também não deve beber água nem sumos, porque depois sai pelos buraquinhos da picada da agulha.

Alguns dias depois, aproveitando que o resultado oficial ainda era desconhecido e antes que me condenassem a algo parecido com a sentença que o Google já me deu (médico cruel, este...), fui pedalar com o marido. Uma determinada parte do percurso foi feita à beira mar, numa zona sem acesso pela estrada e que, convidando ao recato, costuma estar repleta de banhistas literalmente despidos de preconceitos. Apesar de sabermos o que nos esperava (volta não volta fazemos aquele trajecto), passar ali é sempre uma aventura.

O marido, mais treinado das pernas, ainda conseguiu aproveitar alguma coisa do passeio e de vez em quando lá se divertia a olhar discretamente para as movimentações estranhas que se passavam nas dunas. Eu, por outro lado, ia contando as conchas no chão enquanto me esforçava desesperadamente por não me despistar em frente a um pipi desnudado ou, pior ainda, a uma pilinha bamboleante.

Não pensem que eram pruridos devidos à inexistência de uma camuflagem cobrindo as zonas genitais, ali tão gloriosamente expostas ao sol. O meu caso era mais grave que isso – diria mesmo que era um problema de ameaça pública. Vejamos os factos:

1 - a maré estava alta e a areia pouco propícia ao pedalanço sem quedas;

2 - as pilinhas bamboleantes estavam presentes num número bastante elevado e espalhadas um pouco por todo o lado.

Ora se eu escorregasse, no desequilíbrio entre pedais, volante, capacete, braços e pernas, o mais certo era acabar por me tentar agarrar ao que estivesse mais à mão. E, convenhamos, agarrar-me assim, a seco, à pilinha alheia seria, no mínimo, chato (já para não dizer doloroso para o proprietário da mesma).

A ajudar tudo isto, a minha cabeça, por sua própria iniciativa, ia cantarolando “Ó mar, ó mar, ó mar / Ó mar dos tubarões / Ó mar, ó mar, ó mar / Que já me dás pelos… tornozelos”.

 

 

 

 

Lembrem-se que eu tinha levado choques e estava mentalmente perturbada.

Cuidar

Abril 19, 2010

Enxaqueca de dois dias. Chegas de mansinho e tapas-me com um cobertor, aconchegando a lã em torno do meu corpo. Mesmo pairando num outro nível de consciência, sinto a tua mão nas minhas costas, num leve vaivém.

E gosto de ti ali, naquele exacto momento.

Florzinha de estufa

Abril 13, 2010

Durante o Inverno ou, melhor dizendo, durante o tempo frio, as minhas extremidades corporais vergam-se completamente à vontade do Sr. Raynaud (Sr. Ranhoso para os amigos). Isto é principalmente visível nas mãos, que atingem uma temperatura de tal forma baixa que as pontas dos dedos ficam roxas e eu tenho de as andar a esfregar constantemente, com medo que caiam.

Quando o tempo começa a aquecer, as mesmas mãos que não suportam o frio rebelam-se contra os dias de quase calor e explodem em centenas de pequeníssimas borbulhas que dão muita comichão e um ar levemente contagioso. A solução são generosas aplicações alternadas de um anti-alérgico malcheiroso e de um protector solar factor 50.

Hoje a temperatura desceu novamente e as minhas mãos estão, simultaneamente, borbulhentas, empastadas em cremes e com as pontas cianóticas.

Não há reacções estranhas que resistam às indecisões de S. Pedro.

Miss borbulha

Maio 04, 2009

Depois de meses de frio, janelas fechadas, aquecedores ligados, camadas e sobrecamadas de roupa, casacos, botas, chapéus de chuva, finalmente... temos sol a sério!

 

E eu, que adoro o bom tempo e me deprimo invariavelmente durante o inverno, reajo como perante a chegada do sol? Hmmm?

 

 

 

 

 

Com uma bela alergia.

Cenas da vida de uma médica do trabalho... e assim

Abril 15, 2009

Médica (olhando para a profissão): Então, faz coisas giras e assim?
Eu: Vou tentando...

 

Médica (vendo a data de nascimento e esbugalhando os olhos): Que idade é que tem??
Eu: errr...
Médica (esbugalhando ainda mais os olhos): Não parece! Não parece mesmo nada... tem uma cara tão gira!
Eu: errr... .... Obrigada.

 

Médica: Tem algum problema grave e assim?
Eu: Não. Só mesmo a miopia.
Médica: Ah... mas fica-lhe bem! Fica, fica. É que tem uma cara mesmo gira!
Eu (outra vez?!): ...Obrigada.

 

Médica: Já vi que ouve bem.
Eu: Sim. Estou aqui a ouvir o barulho de fundo todo que vem ali da recepção.
Médica: Ah... eu costumo fechar a porta.
Eu (ao estilo de diz-que-é-uma-espécie-de-clínica-numa-espécie-de-cave-e-assim): Por mim deixe estar. Entra ar.

 

Médica (a desenrolar o esfigmomanómetro): Vamos lá medir a tensão.
Eu: Costuma estar baixa.
Médica (fala, fala, fala, fala, fala... e cala-se de repente, com ar sério): ... Pois... realmente está um bocadinho baixa... 10/5.
Eu: É o normal...
Médica: Tem de fazer desporto... e assim.
Eu (sexo conta?): E faço. Natação, btt e ginástica com os olhos e as mãos no teclado e no rato. Às vezes também leio e exercito os neurónios.

 

Médica: E tem pontos fracos e assim?
Eu: errrr... Pontos fracos? O que são pontos fracos?
Médica: Depressões e assim... vontade de se atirar da ponte e assim...
Eu (a parte de estar prestes a endividar-me até ao mais ínfimo micron do meu ser não interessa, pois não? E as vertigens também não ajudam...): Vontade de me atirar da ponte... e assim... não. A vida até me corre relativamente bem.
Médica: Já reparei nisso! A sua cara diz tudo!
Eu (será que posso fugir?): Ah...

 

Médica: As galinhas vivem sempre em stress e produzem toxinas que se acumulam na pele. Por isso é que não se deve comer a pele do frango e assim.
Eu: Estamos sempre a aprender. Felizmente não gosto.

 

Médica: Então felicidades e assim!
Eu: Obrigada. Igualmente... e assim.

Vícios

Dezembro 03, 2008

No feriado, cheia de vontade de me ver livre o mais rapidamente possível do espírito consumista da época, entrei numa livraria com o propósito de comprar ali boa parte das prendas de Natal.

 

Quando dei por isso, tinha os braços cheios de livros para mim.

 

Ontem devorei quase duzentas páginas ao final do dia. Tive sonhos estranhos durante a noite e acordei às quatro da manhã com uma p*** de uma enxaqueca que ainda não passou.

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