Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

outros dias

[dia] período de uma rotação terrestre; no plural, existência

There is nothing like today

Dezembro 13, 2013

Aqui há dias, estávamos eu e o marido reunidos com uns amigos, a repastar depois de um belo passeio de bicicleta, quando na televisão, que estava ligada num canal que só dá música (é verdade, o que é que aconteceu à MTV???), começaram a passar hits dos anos 90. Durante alguns momentos sucederam-se os comentários "Tchii... lembram-se deste? E deste?", "Olha, tão magro!", "Ahahah, que penteados!" mas rapidamente retomámos a comezaina. Todos menos uma das amigas que, completamente vidrada naquilo, só suspirava "Que saudades, que saudades... belos tempos!". A coisa bateu-lhe de tal forma que virou as costas a quem estava na mesa e mergulhou completamente nas suas recordações musicais da adolescência.

Aquilo fez-me toneladas de impressão. Não sinto saudades nenhumas da minha adolescência. Nunca me senti tão bem comigo própria e com a vida como agora. Quais anos dourados, qual carapuça. Mesmo com todos os seus revezes, o presente é que é!

A cenoura no topo do bolo

Outubro 18, 2013

Agora que me vou dedicar à agricultura (vê-se mesmo que me têm faltado os comprimidos...), urge encontrar literatura apropriada ao tema. Google daqui e dali e num brevíssimo rasgo de lucidez, lembrei-me do gigante e famosíssimo Borda d'Água. Claro! What else?

O Borda d'Água, que existe há 85 anos e que é sobejamente conhecido por toda a gente (...menos por mim, que nunca lhe liguei), é um pequeno livro em papel meio transparente, que fala das fases da Lua, das festas, dos feriados, da astrologia, das marés, das estações, da agricultura e de variadas coisas de "utilidade diária".

Para quem nunca folheou o dito, sigam o meu conselho e corram a pôr os olhinhos em cima de um. Vão ver que vale a pena (ainda não parei de me fustigar mentalmente por tê-lo deixado escapar durante tantos anos).

Dentre toda as indicações úteis que nos fornece, há uma que, a meu ver, merece grande destaque (estou até tentada a ir desencantar não sei bem onde as edições anteriores só para me poder deliciar) e que ocupa toda a última página do almanaque. A rubrica dá pelo nome de "Juízo do Ano" e que é uma narrativa premonitória e resumida de como será o ano que se aproxima. E que premonições, senhores! Muito, mas muito melhores do que as profecias desses adivinhos, bruxos e videntes que correm em nosso auxílio através das páginas dos classificados.

Ora vejamos: para 2013, o Borda d'Água dizia que "os que nascerem sobre o domínio de Marte serão inimigos da paz e cheios de ira vivendo sem piedade, mentindo e enganando, pelo que se exige particular atenção a seus educadores pois são crianças difíceis de educar mas também um desafio para a própria sociedade."

Arrepiante, não? E se dúvidas houver, eis como podemos reconhecer as crianças nascidas em 2013: "A sua fisionomia será de rosto grande e com bastantes sinais, pouco cabelo, olhar espantado, pescoço comprido, nariz grande e largo, dentes largos e afastados, poucas barbas no sexo masculino, pés largos e grandes. (...) A nível profissional têm aptidão para a carreira das armas e da guerra (...)".

A coisa não parece animadora, portanto. O melhor é tomar nota destas características e andar com uma check list no bolso de ora em diante, só por precaução.

Depois de saber que os de 2013 são meio ogres, meio delinquentes e dada a seriedade do assunto (falamos das futuras gerações deste país!), apressei-me, como é óbvio, a tentar descobrir como serão os de 2014. Mais uma vez, o almanaque surpreendeu-me com a sua previsão, de contornos levemente alienígenas: "Esteja atento sobretudo aos que lhe estão mais próximos pois por vezes são lobos disfarçados com pele de cordeiro. (...) Os que nascem neste ano serão de estatura mediana com olhos pequenos e atrativos, testa larga e alta, mãos esbeltas e dedos compridos."

Estaremos ainda à mercê dos humores do mais pequeno planeta do Sistema Solar, sendo de prever que as coisas tanto possam correr bem... como mal: "A influência de Mercúrio pode ter duas faces: por um lado pode ter uma influência muito boa, conduzindo o homem no bom caminho, mas, por outro, pode ter uma influência maléfica conduzindo a humanidade numa direção destrutiva e sem retorno".

A sério, não sei como consegui sobreviver até hoje sem esta pérola literária.

"Portugal, 10 points!"

Outubro 02, 2013

Este domingo, estar à espera de conhecer, pela televisão, os resultados das eleições autárquicas fez-me lembrar os gloriosos tempos dos festivais da Eurovisão em que, noite dentro, lá iam chegando os votos, a conta-gotas, alimentando gráficos que tinham uma emoção própria. Nessas noites, eu acabava invariavelmente por adormecer, numa ignorância ansiosa, e só no dia seguinte é que sabia quem tinha ganho.

Sorrio ao pensar em como as coisas eram na altura e em como evoluíram.

Ou será que não?

Dizia eu que aguardava, expectante, os resultados do escrutínio. Pois que de nada me valeu ficar agarrada ao pequeno ecrã e muito menos ir à net vasculhar pelas fontes do costume. Em todo o lado a mensagem era comum: dificuldades nas comunicações obrigaram à interrupção da contagem dos votos (ideia que gera em mim uma imagem dos irmãos Metralha a fugirem pelos campos na calada da noite com sacos carregados de boletins). Imagino que a coisa deve ter sido mesmo grave já que, pelo menos na freguesia onde moro, só na segunda-feira, à hora de almoço, é que foram conhecidos os votos.

Uma treta, estas comunicações do século XXI, é o que eu vos digo...

Pressão psicológica? Naaaa....

Outubro 01, 2013

(no baieta)

- O corte da última vez ficou mesmo bem!

- Ai sim? Que bom!

- Foi. Ficou mesmo bem.

- [sorriso amarelo]

- [sorriso amarelo]

- Olhe que isso é variável... nem sempre se consegue fazer outra vez da mesma maneira.

- Pois, eu sei... Mas é que o último corte ficou mesmo, mesmo, mesmo bem!

Omnipresença

Setembro 13, 2013

Tive de delegar um projecto que me ia roubar (ainda mais) horas de sono, obrigar a "partir pedra" durante uns bons e longos dias e... dar um gozo do caneco a fazer.

 

A falta de tempo é uma bitch.

(en)talão

Setembro 05, 2013

Após anos a levar com talões que, em 90% dos casos, iam parar ao lixo, o Continente finalmente enviou-me duas folhas em que todos aquele irritantes papelinhos destacáveis correspondem a produtos que eu efectivamente compro.

Das duas uma: ou aprimoraram os filtros sobre a informação que têm acerca do meu perfil de consumidora, desde a marca de tampões às bolachas que adquiro (sempre que passo o cartão vermelho com letras brancas para as mãos das operadoras de caixa, imagino logo as bases de dados a crescer à maluca) ou perceberam que a estratégia deles não funciona comigo (descontos em coisas que nunca comprei e que nem sequer me interessam não me fazem ir de propósito à loja deles).

Mas lá está: eu se calhar sou estranha. Como diz o Mano, as minhas compras por impulso acontecem depois de uma pesquisa e análise exaustivas...

Cambada de deprimidos

Setembro 04, 2013

Se não me querem ouvir dizer que as minhas férias foram mesmo muito, muito, muito boas enquanto fazem uma cara de enterro e suspiram de volta "Ehhmm... as minhas passaram-se...", não perguntem.

Foi assim

Agosto 26, 2013

Pinhal. Caruma. Respirar. Calor. Pedalar. Ar. Praia. Areia. Ondas. Mergulhos. Nadar. Conchas. Sal. Sol. Água. Sabores. Sorrisos. Gargalhadas. Fruta. Sons. Dormir. Ler. Serras. Sossego.

Isto é um post à velha

Junho 03, 2013

Como é possível existirem pessoas já bem adultas, com filhos, casa, carro, trabalho, responsabilidades e tudo e tudo e tudo, que chegam atrasadas porque "o despertador do telemóvel não tocou"?

Cheira a Verão

Maio 31, 2013

Notícias recentes dão conta de que este Verão será o mais frio dos últimos 200 anos (ou não tão quente). Há várias incertezas, mas eu cá atribuo um elevado grau de fiabilidade a estas previsões, não só pelas rajadas constantes de vento que quase me arrastam pela rua, como pelo cobertor que ainda mantenho na cama. A seguir às estações meteorológicas, nada como uma escala de arrepios para avaliar fidedignamente o tempo.

Ora, este cenário é terrível. Pior do que imaginar que não poderei usufruir de uns diazinhos de praia ou de uns jantares no calor do terraço é pensar no impacto que isto terá no dia-a-dia e nos hábitos de todos nós. Por isso, quero deixar já aqui um apelo: pessoas, independentemente da temperatura que se fizer sentir, tomem banho.

A sério.

Tomem banho. P-o-r  f-a-v-o-r.

(hoje já me ia gregoriando toda com os aromas que me chegaram ao nariz...)

Tudo a nú

Maio 24, 2013

Por motivos de força maior, tive de banir durante uns tempos as calças com botões e/ou fecho do meu dress code e apostar em combinações alternativas. A Mãe, sempre muito opinativa, aproveitou todas as oportunidades para me mirar de alto a baixo e aprovar ou não a indumentária... e em 99% das vezes levei um rotundo chumbo da parte dela.

Perdi a conta ao número de ocasiões em que ouvi o já conhecido "Estás nua!!!", ao qual respondi sempre com "Estou... por baixo da roupa estou toda nua". A esse comentário juntou-se um igualmente frequente "Vêem-se as cuecas!!!", avaliação que me obrigou a ripostar "Vêem? Hmmm... achas que as tire?".

Mas a melhor das melhores veio depois.

Um destes dias, ia eu aperaltada com o tal dress code alternativo, abeirei-me da Mãe e ainda não tinha chegado a meio dos dois beijinhos do costume quando comecei a sentir o seu escrutínio implacável. Olhou, olhou, olhou, franziu a testa (ainda mais do que nas outras vezes), abanou a cabeça, benzeu-se interiormente e sentenciou, escandalizada:

- Isso não é uma saia! Isso é um tapa-vergonhas!!

 

 

PS - Para que conste, eu não ando nua na rua, nem com as cuecas à mostra. A Mãe é uma exagerada...

Anedota de enfermaria

Maio 21, 2013

que não me foi contada directamente mas em que eu fui a única pessoa a ter de abafar as gargalhadas:

- Nos meus tempos de estudante, durante a guerra do Golfo, dizia-se que havia Bagdad City, Bassora City e Apend City.

Amor cão

Maio 20, 2013

Quando te peguei ao colo pela primeira vez, eras uma pequena bola de pelo castanho, ternurento e fofinho. Mal abrias os olhos e parecias imensamente indefeso. Escolhemo-nos mutuamente, acho. Ainda nos foi sugerido que trouxéssemos um irmão teu, de ar pachorrento e molengão, mas não quisemos. É verdade: foi-nos acenada a hipótese de termos um cão normal e preferimos ter-te a ti. Ignorámos o coração a bater desenfreado na palma da minha mão, um presságio do bicho agitado em que te virias a tornar; também fizemos orelhas moucas aos guinchos soluçantes que emitias, uma antevisão de todos os agudos que viriam a sair constantemente do mais ínfimo recanto da tua garganta canina. Eras tu e pronto.

Cometemos imensos erros na tua educação. Não te conseguimos habituar à presença de outros cães. Não te conseguimos habituar a andar de trela. Não te conseguimos habituar a caminhar ao nosso lado. Não te conseguimos habituar a não uivar durante a noite. Não te conseguimos habituar a não escavar buracos pelo quintal todo. Sabias as regras, apenas escolhias não as seguir. Na verdade, eras bicho para fazer o Dog Whisperer descabelar-se todo.

Uma vez saltaste por cima do muro para ir atrás não sei do quê. Pusemos uma rede mais alta. Voltaste a saltar. Pusemos uma rede ainda mais alta. Fizeste um buraco e voltaste a saltar. Era frequente tocarem-nos à campainha para nos avisarem que "O vosso cão anda na rua". Tinhas sempre que fazer do lado de fora da casa. Comer porcarias. Ir ladrar aos outros cães. Levantar a pata em todas as esquinas e pedras. Rebolar-te em coisas imundas. Uma alegria.

Noutra ocasião, aproveitaste um nanosegundo de distracção em que o portão se manteve aberto sem vigilância e saíste disparado. Logo por azar, naquele exacto momento, passou um carro na rua a uma velocidade pouco compatível com cães que saem disparados do meio do nada. Levaste uma pancada, ganiste, fizeste-nos pensar o pior. Mas quando fomos ver, já ias bem longe, a saltitar com as orelhas ao vento, extasiado com a sensação de liberdade.

Também nos ajudavas na jardinagem. Comias pêssegos podres directamente da árvore. Ias roer limões – que tinhas arrancado dos ramos - para os degraus da entrada. Abrias sulcos em busca de minhocas. Usavas a mangueira como aperitivo enquanto não te enchíamos o prato (este hábito, aliás, levou-te de emergência ao veterinário por teres ficado com os intestinos entupidos com o plástico que tinhas roído). E depois de teres descoberto os prazeres da coprofagia, a vida em casa nunca mais foi a mesma.

Em determinada altura, achámos que o teu problema era excesso de energia. Levámos-te à praia (na época baixa, obviamente) para correres à vontade. E como correste... principalmente atrás dos outros companheiros de quatro patas. Quando te colocámos novamente no carro, arranjaste forma de ladrar a todo e qualquer cão que se cruzasse connosco, de tal maneira que acabámos por ter uma matilha a perseguir-nos estrada fora. Eras um verdadeiro bullier e nunca te intimidaste com o facto dos outros terem o triplo do teu tamanho.

Ir contigo a qualquer lado era uma aventura e exigia comer previamente dois ou três bifes bem aviados. Não que fosses corpulento ou pesado, mas porque nos cansavas com os teus guinchos de excitação, com o frenesim da trela a puxar, com a sofreguidão de perseguir tudo o que se mexesse ou te parecesse minimamente interessante.

Dizem que os cães adaptam o seu comportamento ao estado de espírito dos seus donos; se eles estão tristes, o cão tenta consolá-los; se estão contentes, partilham dessa alegria. Tu estavas-te perfeitamente a borrifar. Estivesse eu como estivesse, rouca de tanto gargalhar ou com a vida a inundar-me por dentro e a transbordar-me pelos olhos, tu babavas-te para cima de mim como sempre, corrias e saltavas à minha volta como sempre, desafiavas-me com a bola como sempre, enchias-me de pelos como sempre.

Quando ficaste leishmanioso - e passado o choque inicial - interiorizei o facto de, mais tarde ou mais cedo, ficarmos sem ti. Tive apenas receio do processo até chegarmos a esse momento; tive receio que os rins ou o fígado falhassem, ou que sofresses um qualquer colapso súbito, ou que fossemos obrigados a correr a toda a hora para o veterinário, procurando mitigar-te o sofrimento.

Mas tal não aconteceu. Aguentaste-te heroicamente. Fizeste as medicações prescritas, as análises de controlo, a alimentação regrada. Não sei se foi por isso ou por pura sorte, mas demos a volta às sacanas das leishmanias. E o teu comportamento “exemplar” manteve-se genuinamente tresloucado até ao fim.

Foste um bom cão – um verdadeiro cão – e acho que fomos bons donos.

Quando nos dizem que para esquecer este devíamos arranjar já outro, eu penso por que raio de razão quereríamos nós fazê-lo. “Esquecer este” (esquecer-te!) seria esquecer os últimos doze anos de vida, da nossa vida-a-dois-mais-um-cão-de-olhos-amarelos-e-mal-comportado. Nunca conseguiria fazê-lo e conforta-me saber que, pelo menos nas nossas memórias e nas memórias dos sítios por onde passámos, tu serás eterno.

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.