O Google tem um botão com o nome em epígrafe (sempre desejei dizer isto: "em epígrafe"...) cuja razão de ser, pensava eu, andava algures entre a completa inutilidade e a mais hilariante das surpresas. Neste momento, abençoo os senhores do Google pela sua existência.
A história é longa, mas eu explico.
Eu sou forreta, agarrada, mão de vaca. É mais forte do que eu: tudo o que implique gastar dinheiro traz-me grande sofrimento físico e psicológico. E sempre que é absolutamente necessário fazê-lo, procuro em pelo menos doze lojas diferentes, planifico, confronto especificações, meço, altero, simulo, desenho e tenho insónias até encontrar exactamente o que quero, pelo preço que quero.
A casa nova vai ter, como o adjectivo indica, uma cozinha nova. E uma cozinha nova, como o adjectivo, mais uma vez, indica, implica (atenção que não disse "obriga" [formigueiro, formigueiro, formigueiro]) electrodomésticos novos. E electrodomésticos novos significa... [formigueiro, formigueiro, formigueiro] gastar dinheiro.
Reduzido o pacote de possibilidades de equipamentos a adquirir a cinco magníficos exemplares (forno, placa, exaustor, arca congeladora vertical (quem me conhece sabe que há ANOS desejo ter uma...) e máquina de lavar roupa), eu e o marido deambulámos por essas grandes superfícies comerciais fora em busca dos modelos perfeitos, para que lhes pudéssemos mexer, abrir portas, rodar botões, testar a resistência. Encontrámos exposições fracas, fraquinhas e fraquíssimas. Modelos que já nem sequer apareciam no site da própria marca, descrições que nada diziam ou simplesmente inexistentes, funcionários que reviravam os olhos a perguntas tão simples como "Quantos litros tem este forno?" ou "Qual é o nível de ruído desde exaustor?". Depois de muitas viagens e entre umas e outras lojas e os catálogos que puxei da net, lá conseguimos fazer a nossa escolha e passar para a fase seguinte: orçamentos.
Aprendemos logo que só compra nas grandes superfícies quem não está para ter trabalho ou quem não sabe que há alternativas bem mais baratas. Aqui, o chamado comércio tradicional, com porta aberta para a rua, funciona muito melhor. Por recomendação do construtas-man, fomos a duas lojas conhecidas pelos “preços baixos” e “descontos imbatíveis”. E acabámos por fazer uma coisa muito feia... da qual não nos arrependemos: mostrar o orçamento de uma à outra e dizer que tínhamos valores mais baixos. Andámos umas semanas neste jogo de dumping-aplicado-ao-consumidor até que uma delas, espremida até ao tutano, lá chegou aos 30% de desconto e arrebatou o negócio.
Ou quase.
A minha forretice, aliada à desconfiança do marido, não nos estava a deixar completamente satisfeitos em relação ao preço do forno. Apesar de não termos encontrado nenhuma proposta mais baixa, achávamos que, por muito pirolítico-xpto que o dito fosse, o que nos pediam por ele era excessivo. Artilhado com a dúvida, o marido apoderou-se da caixa de pesquisa do Google, digitou a referência do forno e, por engano, clicou no "Sinto-me com sorte" em vez de no "Pesquisar". E foi então que todo um mundo novo se abriu perante os nossos olhos: uma loja física situada num extremo do país, com vendas online e preços, esses sim, verdadeiramente pirolítico-xptos.
Com o orçamento deles na mão (recebido uma hora depois de os ter contactado por mail), fomos tentar estrafegar ainda mais a tal loja com quem já tínhamos acertado contas. A vendedora, a gerente e a administração esmifraram-se, esmifraram-se, esmifraram-se... mas não chegaram lá por... mais de 200€. E meus amigos, para nós, era muito carcanhol.
Avançámos então com a encomenda dos cinco magníficos à loja online e agendámos a entrega em duas fases: o que era de encastrar vinha primeiro, para ser logo montado assim que a cozinha estivesse instalada, e o resto viria mais tarde, para evitar que acontecessem coisas chatas como pontapés acidentais durante as restantes fases da obra.
Os electrodomésticos são enviados via transportadora e é esta que gere as horas das entregas. Foi a única coisa que não gostei em todo o processo: pedi para ser depois das 17h (porque felizmente ainda trabalho) e fiquei a saber que o estafeta vinha às 11h da manhã. A incompatibilidade lá se resolveu com um desvio até ao meu local de trabalho (!) e transbordo do forno, placa e exaustor para o meu carro (sim, tal como no episódio da conduta, a minha coisa-com-rodas revelou ser um espectáculo!!).
Do que vimos, está tudo em condições, isto é, inteiro, sem riscos nem amolgadelas, com manuais de instruções, papéis da garantia e factura. Estamos satisfeitos porque todo este processo começou em Janeiro e, enfim, já vão sendo muitos meses de insónia.
Depois do rol de peripécias, só nos falta mesmo o próprio cozinhas-man ter um botão "sinto-me com sorte" para se decidir de uma vez por todas a ir colocar-nos os móveis.
Entretanto... obrigada, Google!