Talvez não saibam, mas isto diz muito sobre mim #4
Nestas férias, deixei todos os deveres domésticos de engomadoria para o último dia (e hoje doem-me as costas por causa disso).
Nestas férias, deixei todos os deveres domésticos de engomadoria para o último dia (e hoje doem-me as costas por causa disso).
Nestas férias, descobri o verdadeiro prazer de meter tachos e panelas na máquina de lavar loiça (e de depois os encontrar a reluzir!).
Nestas férias, deixei de saber em que dia do mês e em que dia da semana estava.
Assunto pendente resolvido, sinto-me, finalmente, de férias.
Às vezes é muito difícil ser-se adulto.
Para todos, um bom Natal.
“Ela diz que não veste as cuecas.”
“Os meus restos de comida são mais velhos que os teus.”
“Eu faço trabalho intelectual, logo, preciso de comer muito açúcar.”
“A mulher do voice-mail telefona-me a meio da noite. Já lhe disse que não quero nada com ela, mas ela está-me sempre a dizer para carregar nas teclas. Eu carrego, mas ela não se vai embora.”
“O que é que está aqui dentro?”, “Um rabo de lagartixa.”
“Já posso abrir a minha prenda? Já posso abrir a minha prenda? Já posso abrir a minha prenda? Já posso abrir a minha prenda?”
"Acho indecente que ninguém me tenha oferecido o livro que eu queria."
"E meias? Ninguém me comprou meias? Eu preciso de meias..."
O marido acha que o meu desencantamento em relação ao Natal se deve a um qualquer recalcado trauma de infância.
Muito pelo contrário. O meu desencantamento deve-se, isso sim, a já ter ultrapassado a fase da infância (ou, pelo menos, assim o devia).
Quando era cachopa, os Natais eram passados em casa da minha avó, com as primas e os tios todos reunidos. Eram verdadeiras festas, de peru recheado com coisas estranhas, pastéis e massa tenra e um sem fim de travessas de doces na mesa, juntamente com o bolo-rei e as suas intragáveis frutas cristalizadas. Havia as primas para formar um bando de raparigas a correr atrás do meu irmão para lhe fazer judiarias. Havia o tio que se mascarava de Pai Natal e a quem eu puxei a barba para desfazer a magia. Havia o pinheiro verdadeiro, enfeitado com bolas lascadas e fitas e luzes que demoravam horas a desenlear de um ano para o outro. Havia prendas, que se abriam sofregamente e que eram, algumas, logo ali estrategicamente desviadas das nossas mãos pela Mãe. Havia a família reunida até tarde e depois a tropa toda a descer as escadas do prédio e sair para a noite gelada. E nós ficávamos à janela, a acenar até os carros terem dobrado a rua. Era um dia em que nos deitávamos tarde, excitados com tudo.
O segredo era a nossa inocência.
Depois crescemos. Eu cresci. E vi que, afinal, a tendência para o bem e a integridade não são qualidades inatas e naturais das pessoas. Nem minhas. E que não dá para fazer undo às asneiras e aos erros.
Mas, se não fosse o Natal, os jantares que antes eram na avó e que agora se distribuem por cinco ou seis casas, se calhar não se faziam. E não continuávamos a dizer "Epa, temos que combinar qualquer coisa, só nos vemos uma vez por ano, já repararam?!", "Pois é, pois é...".
E isso é, apesar de tudo, uma coisa boa.
(e os presentes também! )
Esperam-me duas semanas de férias laborais.
O blog ficará, provavelmente, abandonado (não é nada que já não venha a ser habitual...).
A todos um Bom Natal e Feliz 2009.
- Vou matar o Pai Nataaaaaaaal!!!!
(puto de 8 anos a brincar com uma espingarda de plástico e a apontar para um boneco do Pai Natal pendurado na varanda)