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outros dias

[dia] período de uma rotação terrestre; no plural, existência

Êxtase

Agosto 20, 2010

Em digressão científica pela Dinamarca, o Irmão - que tem em casa um quarto só para a sua colecção de legos - envia-me uma mensagem dizendo apenas "Legoland".

 

Respondo-lhe, sem hesitar, "ET finally found home".

Mãe, a náufraga da www

Fevereiro 22, 2010

Há dois meses e meio atrás, ofereci à Mãe uma ligação móvel à internet. Este fim-de-semana, ou seja, dois meses e meio depois, o Irmão lá teve tempo e paciência para a ajudar e abriu-lhe, pela primeira vez, as portas do mundo virtual.

O mail foi estreado com uma mensagem para mim:

"Estou a naufragar no mar da internet por causa de vocês os dois!
HELP"

A matéria de que somos feitos

Dezembro 03, 2009

Caminho depressa, com receio que as palavras me fujam.

Será como adormecer? Este estado semi-comatoso, de respiração irregular? Será que dói? E onde? Nos braços? Dentro do peito? Nas saudades? Será que se pensa? E em quê? Em que ponto nos deixamos ir? E vamos? Quando é o último sopro? E a consciência, perde-se? Ou ganha-se?

As mãos fecham-se, estremecidas. Parecem querer agarrar qualquer coisa. O olhar está inquieto, acelerado, impotente perante a traição do invólucro doente. A tosse é desesperada. O peito arfa, sem ar. Depois acalma, iludido. O raciocínio é perfeito e o discurso constante, ainda que sussurrado por vezes. Luta contra o inevitável, o não assumido, e deseja as histórias que ficaram por fazer.

"Quando estiver melhor, quero ir para casa", e minutos depois, como que subitamente lúcida, "Tenho medo de morrer sozinha".

As semelhanças que observo arrepiam-me. A teimosia. As ideias fixas. O ter sempre algo a dizer e a opinar. A independência. O fechar-se no seu próprio mundo. As barreiras erguidas, à espera de quem tenha a coragem e, principalmente, a persistência de as contornar. O coração amolecido perante um afago, mesmo que breve.

Acaricio a herança com um nó na garganta. Que outros genes terei seus?

Aos poucos, a luz apaga-se. O tórax sobe, desce e pára em ritmos cada vez mais longos.

Já é só corpo o que vejo.

Recordo fragmentos de palavras e de vivências fantásticas. Sorrio, remexo-me interiormente, liberto sentimentos.

A face está tranquila e apazigua-me.



Tia-avó, minha árvore centenária da capicua dos 101.

O que tu queres sei eu

Novembro 13, 2009

A Mãe está um bocadinho triste porque pensava que a casa nova ia estar pronta no Natal.

- Ohh... assim não podemos fazer lá a festa.

Expliquei-lhe que a conclusão está prevista para Fevereiro, que ainda faltam muitas coisas e que o mais provável é que se atrase.

- Ohh... mas podemos fazer a festa na mesma!! Levamos lanternas e cadeiras e, se estiver frio, vestimos mais casacos!

- Mas que festa é que tu queres fazer?!

- Epa, uma qualquer!!!

Sair da casca

Agosto 19, 2009

Já aqui disse (e muito mais pessoalmente) que a Mãe, às vezes, é muito self-centered. Tem as suas rotinas organizadas e opiniões ferrenhas, teimosia e manias qb e uma postura algo “peculiar” em relação às pessoas que a rodeiam (quando deixa). E é assim sempre, todos os dias… excepto quando alguma coisa atinge um dos filhos. Alguma coisa um bocadinho maior do que os habituais e corriqueiros “Oh, que chatice, entalei o dedo, achas que está partido?”, ou “Ó Mãe, explica-me lá outra vez... que carne é que eu compro para assar?”.

Nessas alturas, esquece-se de si própria e desdobra-se em manobras de auxílio e em silêncios que denunciam raciocínios acelerados em busca de soluções. E dá inesgotáveis colos reconfortantes, doces, doces como o mel.







Obrigada, Mãe.

Agridoce

Abril 15, 2009

Pessoas quem faltou (e falta) tudo. Começando nos bens materiais e acabando nos bens afectivos. Abraços. Colo. Conforto. Umas festas na cabeça e a frase “vai tudo correr bem”, mesmo na incerteza. E isso vê-se na agressividade, na cobiça, na raiva da fala, na aspereza dos gestos.


Posso dar-me durante uns minutos ou durante umas horas, mas depois, no fim, viro as costas e retomo a minha própria vida, enquanto aquelas outras vidas continuam lá, como sempre. Sem abraços, sem colo, sem confortos.


E eu, que me estou sempre a queixar e que sofro de uma hipersensibilidade e de uma carência estúpida para as coisas mais imbecis, vejo que, se calhar, afinal, até tenho sorte.

 

E isso deixa-me triste.

Cem - quase cento e um - anos

Março 10, 2009

Lembra-se das coisas que lhe conto e pergunta-me sempre pelo trabalho, pelo ser-peludo-que-vive-connosco, pela natação, pelo marido, pelo pneu furado do carro, pelo siso extraído, pelas aftas, pelo cansaço, pelo sono, pelo jantar.

“Já está feito?”

Repete as mesmas histórias sem se dar conta e faz grandes divagações filosóficas que terminam invariavelmente com uma gargalhada ou duas.

“Para o que me havia de dar!”

Diz que já se habituou ao meu telefonema diário e estranha quando me atraso na hora. Atende a chamada chamando-me “raio de luz” e de vez em quando agradece-me por me ter lembrado de lhe telefonar, como se não o tivesse feito no dia anterior, e no outro, e no outro.

“Obrigada por teres ligado… ainda não tinha falado com ninguém hoje!”

Vai saindo à rua, já com menor frequência, para fazer compras e pagar a renda, a água, a luz, o telefone, o gás. Tem preguiças ocasionais em que se mete debaixo do cobertor e fica deitada horas a fio, com a televisão acesa.

“Estava a fazer viagens à volta do umbigo…”

Comprou uma torradeira nova (que ainda não estreou) mas nem sequer sei se se alimenta convenientemente. Mandou arranjar a porta. Teve de reparar o quadro eléctrico. Insiste que continua a ter “ladrões” em casa que lhe levam ninharias.

“Tudo lhes convém…”

Evito perguntar-lhe coisas que sei que a vão magoar ou entristecer, mesmo que passados dez minutos já nem se lembre da conversa. Falo com ela mas na maior parte do tempo limito-me a ouvi-la. E ouço-a quase até ficar sem bateria no telefone.

Quando desligo,

 "Um beijo e um abraço muito, muito afectuoso para ti e para a tua cara metade. As melhoras do teu fiel amigo e até amanhã!"

tenho vontade de chorar.

Encosta-te a mim

Janeiro 16, 2009

Na semana passada vinha aqui falar sobre os inconvenientes de ter rapado o cabelo até aos 4 cm de altura mesmo antes de sermos assolados pela vaga de frio polar.

 

É que o fresquinho nas orelhas, na nuca e no couro cabeludo pode, às vezes, ser desagradável.

 

Mas.

 

Mas.

 

A minha árvore centenária precisou de mim.

 

E hoje estou triste, desanimada, impotente, cansada.

 

O nosso país não tem soluções sociais para pessoas teimosas, independentes, com 100 anos de idade e uma reforma assim-assim.

 

Gostava de divagar mais sobre este tema, mas o tempo que (não) me sobra é para encher de beijos e abraços a tia-avó. Para que não se sinta sozinha.

New Year's shots

Janeiro 08, 2009

"Os brócolos estão todos lavados. Todos menos os que vão para o teu prato. Nesses, até vais receber uma lagartinha branca como brinde."

 

"Para ti tenho ali água com ferrugem."

 

"É impossível ficares bem na fotografia. Tinhas que tirar os pelos do nariz."

 

"Aquilo é fino demais!", "Ah, gostas mais quando são grossas, é?"

 

"Feliz Natal!"

 

"Isso irrita um bocadinho, sabias? Isso irrita um bocadinho, sabias? Isso irrita um bocadinho, sabias? Isso irrita um bocadinho, sabias? Isso irrita um bocadinho, sabias? Isso irrita um bocadinho, sabias? Isso irrita um bocadinho, sabias? Isso irrita um bocadinho, sabias? Isso irrita um bocadinho, sabias? Isso irrita um bocadinho, sabias? ISSO IRRITA UM BOCADINHO, SABIAS?"

 

"Como é que se ferve uma quantidade generosa de água?"

 

"Os camarões vão ter um AVC com tanto sal."

 

"Nós comemos coisas mortas."

 

"Quando estava a ralar a cenoura, ralei também um bocado do dedo. É uma oferta especial, só para ti e para a lagartinha dos brócolos."

Christmas Shots

Janeiro 08, 2009

“Ela diz que não veste as cuecas.”

“Os meus restos de comida são mais velhos que os teus.”

“Eu faço trabalho intelectual, logo, preciso de comer muito açúcar.”

 “A mulher do voice-mail telefona-me a meio da noite. Já lhe disse que não quero nada com ela, mas ela está-me sempre a dizer para carregar nas teclas. Eu carrego, mas ela não se vai embora.”

“O que é que está aqui dentro?”, “Um rabo de lagartixa.”

“Já posso abrir a minha prenda? Já posso abrir a minha prenda? Já posso abrir a minha prenda? Já posso abrir a minha prenda?”

 

"Acho indecente que ninguém me tenha oferecido o livro que eu queria."

 

"E meias? Ninguém me comprou meias? Eu preciso de meias..."

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