No feriado, cheia de vontade de me ver livre o mais rapidamente possível do espírito consumista da época, entrei numa livraria com o propósito de comprar ali boa parte das prendas de Natal.
Quando dei por isso, tinha os braços cheios de livros para mim.
Ontem devorei quase duzentas páginas ao final do dia. Tive sonhos estranhos durante a noite e acordei às quatro da manhã com uma p*** de uma enxaqueca que ainda não passou.
Sendo reconhecidamente agnóstica, é-me cada vez mais difícil compreender o Natal.
Este Natal.
Da obsessão pelas compras. Das prendas "à pressão" e sem significado. Dos telefonemas que fazemos apenas nesta altura. Das pessoas com quem estamos apenas nesta altura. Das sms descaracterizadas e em catadupa. Dos chocolates e das garrafas de vinho embrulhadas em papel colorido ou vermelho berrante. Do empanturranço politicamente correcto com doces, filhós e bolo-rei.
Não compreendo e não gosto deste Natal. Sabe-me a obrigações e coisas forçadas.
b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a Um (ou dois, ou três, ou até mais, consoante o número de almoços, lanches e jantares tidos) feliz Natal. b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a b l a
Eu não gosto do Natal. E não gosto desde que deixei de ser pequenina, o que já foi há muito, muito tempo.
Este ano, a ausência de espírito natalício atingiu níveis nunca antes vistos. Bateu todas as escalas de Richter e de Mercalli modificada. Mesmo assim, enchi o peito de ar e fiz o Natal. E fi-lo lá em casa. Jantar, com sopa e tudo. E muitas sobremesas. E troca de prendas. E sorrisos e "muito obrigadas" e fotografias. O pacote completo da tradição.
No final da noite, depois de todos se irem embora, sentei-me no sofá. A televisão estava ligada num canal qualquer e havia brasas na lareira.
Cheguei à conclusão que é impossível fazer compras normais durante esta época. Se o leite se acabar, azar. O melhor é esperar que a loucura consumista natalícia passe e, nos entretantos, ir empurrando os cereais com água del cano.
Três horas antes: Duas prendas para comprar. É rápido, penso. Já sei o que quero trazer, é só chegar lá, pagar e vir embora.
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Três horas depois: Vou deixar de acreditar no Pai Natal. Este ano não me apetece oferecer nada a ninguém, nem fazer almoços, nem jantares, nem ver a 56ª reposição do Sozinho em Casa / Senhor dos Anéis / Harry Potter.
Onde é que esta gente toda se esconde durante o resto do ano??!!