Querido, fizemos uma casa #3
Março 29, 2011
Na cozinha, as cubas do lava-loiça parecem dois poços. São demasiado fundas para conseguir, por exemplo, lavar os legumes sem ficar com dores nas costas. Mas são perfeitas para esconder a loiça suja de uma semana inteira sem que se note sequer a pontinha uma colher a surgir à superfície (não é que eu o faça, mas...).
A placa de indução é das coisinhas electrónicas mais maravilhosas em que mexi nos últimos tempos. Acabou-se o cheiro a gás, acabou-se o descontrolo com os tempos de cozedura, acabaram-se os trinta minutos de espera até que a panela da sopa comece a ferver. Tinham-me dito que iria demorar uma semana a habituar-me à bicha, mas nem um dia levei. Assustaram-me com histórias de comida queimada, de me remediar com sandes para o jantar e de pessoas que tinham desistido daquilo e voltado ao tradicional fogão a gás. Eu, que sou estranha, não quero outra coisa desde o primeiro instante em que lhe pus as mãos e os tachos em cima.
Abençoado seja também o dia em que decidimos meter piso radiante. Mesmo, mesmo, mesmo. Onze anos a viver com frio, humidade, ataques de tosse e de alergias desconhecidas bastaram para nunca mais querer igual!
As casas de banho parecem salões de baile. A sério. Nenhum de nós gosta de andar aos encontrões no wc mas acho que exagerámos um bocadinho nas dimensões que exigimos ao arquitecto...
Dizem-nos que também exagerámos em armários e roupeiros mas até agora não nos queixamos disso. Espaço para arrumar tralhas é o que é mais preciso. Achávamos que tínhamos meia dúzia de coisas na casa antiga e que a mudança ia ser rápida e pacífica, mas a verdade é que quantos mais armários esvaziamos, mais tralha parece nascer espontaneamente lá dentro. A carrinha das mudanças foi cheia e ainda ficaram quatrocentas e vinte e oito mil coisinhas para trás. Temos levado os caixotes aos poucos, mas mais tarde ou mais cedo já sei que nos vai dar a fúria e o que tiver sobrado vai implacavelmente parar ao contentor do lixo sem passar por qualquer triagem.
Para encher as paredes que não estão ocupadas com os tais armários e roupeiros ou com as janelas (onde também exagerámos) recorremos, claro está, à IKEA e aos seus espectaculares sistemas-de-estantes-aka-puzzles-de-madeira-e-derivados-elaborados-com-alguns-requintes-de-malvadez. Sigo regularmente este e este sites mas vou deixar a modéstia de lado e atribuir a mim mesma o prémio de maior fã da IKEA: ainda não vi ninguém que tenha desenhado uma parede de uma divisão da casa a contar com as dimensões da mobília sueca que lá queria montar (sim, eu fiz isso em planta e certifiquei-me, em obra, que as medidas eram as correctas).
Até agora o que mais impressão me faz é mesmo o eco. A mobília é pouca e ainda não temos tapetes (sem serem os da porta da entrada) nem cortinas (os varões já lá estão, à espera de serem montados), pelo que qualquer conversa em divisões diferentes soa a grunhidos dentro de um barril distante.
Temos adormecido sempre cansados e lá para as tantas (a troca da hora não veio ajudar mesmo nadinha...). Há sempre, sempre coisas para fazer e a mim dá-me comichões ver os mesmos caixotes no mesmo sítio durante muito tempo. Mas aos poucos a coisa vai :)