Abandono
Maio 30, 2012
Não tem nada a ver com o vento ou com o calor, com o Inverno ou o Verão. Não tem nada a ver com os amigos ou com a família, com os colegas ou os conhecidos. Não tem nada a ver com o som da campainha ou com os telefonemas, mails, sms ou chats. Não tem nada a ver com o que como ou bebo. Não tem nada a ver com as horas que durmo ou que passo a pedalar. Não tem nada a ver com os passeios ou com a minha coisa-com-rodas-que-me-leva-para-quase-todo-o-lado, com o zapping alheado ou o som da madeira a crepitar na lareira. Não tem nada a ver com as crises, com os subsídios ou com os prémios. Não tem nada a ver com as conversas ou com o que leio ou o que ouço. Não tem nada a ver com a roupa que passo a ferro ou com os golos nos matrecos. Não tem nada a ver com as golas altas ou as borbulhas na pele, com os arranhões ou as nódoas negras. Não tem nada a ver com vectores, érregêbês, códigos ou miras. Não tem nada a ver com sonhos, com esperanças ou com desejos. Não tem nada a ver com o ser-peludo-que-vive-connosco, com a casa nova e os projectos eternos. Não tem nada a ver com gelados, chocolate ou batatas fritas. Não tem nada a ver com o amor ou com o carinho, com os abraços ou com os beijos.
Não tem nada a ver com nada disto. Mesmo nada.
Todas estas coisas, pessoas, acontecimentos ou sensações seguem o seu caminho de forma independente. Tudo acontece, é e está sem que faça qualquer diferença sobre aquele momento que se repete em mim todos os dias, sem excepção. Sem que se modifique, nem que seja ligeiramente, aquele instante, ora breve ora demorado, em que eu, à margem e em paralelo com o resto do mundo, esteja onde estiver ou faça o que fizer, me sinto terrivelmente só.