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outros dias

[dia] período de uma rotação terrestre; no plural, existência

Abandono

Maio 30, 2012

Não tem nada a ver com o vento ou com o calor, com o Inverno ou o Verão. Não tem nada a ver com os amigos ou com a família, com os colegas ou os conhecidos. Não tem nada a ver com o som da campainha ou com os telefonemas, mails, sms ou chats. Não tem nada a ver com o que como ou bebo. Não tem nada a ver com as horas que durmo ou que passo a pedalar. Não tem nada a ver com os passeios ou com a minha coisa-com-rodas-que-me-leva-para-quase-todo-o-lado, com o zapping alheado ou o som da madeira a crepitar na lareira. Não tem nada a ver com as crises, com os subsídios ou com os prémios. Não tem nada a ver com as conversas ou com o que leio ou o que ouço. Não tem nada a ver com a roupa que passo a ferro ou com os golos nos matrecos. Não tem nada a ver com as golas altas ou as borbulhas na pele, com os arranhões ou as nódoas negras. Não tem nada a ver com vectores, érregêbês, códigos ou miras. Não tem nada a ver com sonhos, com esperanças ou com desejos. Não tem nada a ver com o ser-peludo-que-vive-connosco, com a casa nova e os projectos eternos. Não tem nada a ver com gelados, chocolate ou batatas fritas. Não tem nada a ver com o amor ou com o carinho, com os abraços ou com os beijos.

Não tem nada a ver com nada disto. Mesmo nada.

Todas estas coisas, pessoas, acontecimentos ou sensações seguem o seu caminho de forma independente. Tudo acontece, é e está sem que faça qualquer diferença sobre aquele momento que se repete em mim todos os dias, sem excepção. Sem que se modifique, nem que seja ligeiramente, aquele instante, ora breve ora demorado, em que eu, à margem e em paralelo com o resto do mundo, esteja onde estiver ou faça o que fizer, me sinto terrivelmente só.

Strengthness

Maio 16, 2012

Há coisas que nos abalroam a grande velocidade, subitamente, saídas de onde menos esperamos. Coisas que nos derrotam, que nos fazem inundar o mundo com lágrimas e questionar as respostas, as perguntas, os silêncios. Tudo se transforma num labirinto, numa cadeia de acontecimentos, de causas e efeitos, de pontos de interrogação, de reticências, de vírgulas, de pausas. Instala-se uma dormência que achamos que nunca vai passar e deixamo-nos arrastar para tão, mas tão longe que duvidamos ser possível, algum dia, regressar do sítio para onde fomos empurrados.

Mas o ser humano é verdadeiramente extraordinário e, por entre o caos, sem sabermos como, lá arranjamos forma de rodear ou ignorar os obstáculos e quando damos por nós, estamo-nos a rir, meio enlouquecidos, de toda a trampa que nos vai acontecendo. A meio do dia, sozinhos ou acompanhados, no banho, a lavar os dentes, a pedalar, a estender a roupa, libertamos descaradamente gargalhadas quase histéricas e acreditamos, por momentos, que, seja o que for, havemos de lhe sobreviver. E por momentos, conseguimos, enfim, voltar a respirar, seja aos soluços, seja engolindo gigantescas golfadas de ar.

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