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outros dias

[dia] período de uma rotação terrestre; no plural, existência

Overboard

Fevereiro 16, 2011

Estou zangada com o São Pedro ou lá quem é o santo que manda nas meteorologias lá em cima.

Há duas noites que acordo sobressaltada com o barulho da chuva e dos CALHAUS de granizo a bater-me na janela do quarto. Estou invariavelmente a sonhar que me encontro a bordo de uma nau dos Descobrimentos em pleno alto mar, enfrentando vagalhões de dez, doze metros, abana para aqui, abana para ali, água, água, água.

Eu gosto de água, mas fico sempre a pensar que o tecto me vai cair em cima ou que ao sair da cama vou enfiar os pés num rio que me inundou a casa.

São Pedro, amigo, já chega, sim?

Obrigadinha.

Chama imensa

Fevereiro 16, 2011

Há uma adivinha que reza qualquer coisa do género: "Se só tiver um fósforo e entrar num quarto frio e escuro onde existe um candeeiro a petróleo, uma vela e um aquecedor a gás, o que acende primeiro?". A resposta correcta é, logicamente, o fósforo... excepto no caso da Mãe.

A Mãe iria primeiro ao fogão da cozinha.

Senão vejamos os passos que segue para acender a lareira:

  1. gastar, em vão, todos os fósforos de uma caixa novinha em folha;
  2. resmungar porque as lixas de hoje em dia não prestam para nada;
  3. lembrar-se que tem um acendedor que usa no fogão;
  4. descer até à cozinha;
  5. lembrar-se que o acendedor não tem gás e, por isso, só faz faísca;
  6. abrir um dos bicos do fogão e usar a faísca do acendedor para o acender;
  7. ir buscar uma vela;
  8. acender a vela na chama do fogão;
  9. apagar o fogão;
  10. levar a vela até à lareira (que, recordemos, está no andar de cima);
  11. acender, finalmente, a lareira, usando a vela;
  12. usufruir do calor e do crepitar da lenha.

 

Não havia eu de sair assim tão inteligente como saí...

Entretanto, noutro local não muito longe dali...

Fevereiro 11, 2011

A Avó, Mãe da Mãe, sempre tentou fazer de mim uma senhora "à séria". Há uns vinte, vinte e cinco anos atrás, e na cabeça da Avó, isso significava transmitir-me não só valores como... lavores.

Lembro-me bem - tão bem - de estar sentada à beirinha da cama da Avó, com ela à minha frente, de agulhas nas mãos e esquemas complicados no colo, novelos e novelos de linhas por todo o lado e uma persistência infinita a ensinar-me os passos e os preceitos todos.

Aquelas tardes eram para mim um pesadelo. Sempre gostei de trabalhos manuais, mas trocava de bom grado as agulhas por pregos sem sequer pestanejar. Os nomes eram confusos. As costas doíam-me. As malhas saltavam e perdiam-se. Os enganos só eram descobertos quando já ia umas sete ou oito carreiras mais à frente. Pior, muito pior, do que tudo isto era o sol que fazia na rua e o vento nas árvores que parecia chamar por mim. Eu suspirava, suspirava, suspirava... e lá endireitava as agulhas e esforçava-me por prestar atenção à Avó (dizer que não a tanto empenho parecia-me uma maldade muito grande).

Até renda de 5 agulhas eu fazia. Com "gatos", é certo, mas fazia... usando pedaços de cortiça na ponta das agulhas para (tentar) evitar a tragédia maior de qualquer senhora dos lavores digna desse nome: a frustração das malhas caídas.

Hoje, vinte ou vinte e cinco anos depois daquelas tardes, pego nas agulhas de tricot da Mãe e

- Ó Mãe, como é que se com...

e antes de terminar a frase, dou por mim a montar uma carreira quase sem olhar, com os dedos a andar ligeiros para trás e para a frente, como se tivesse sido ontem que me sentei à beirinha da cama da Avó.

Wow.

A memória é, de facto, algo extraordinário.

(Interrogo-me se, pegando num tecido de algodão e começando a puxar linhas, também me lembrarei automaticamente daquelas barras para toalha que aprendi a fazer. Hei-de experimentar...)

Entretanto, e porque, afinal, com pregos ou com agulhas, trabalhos manuais são sempre trabalhos manuais, naqueles bocadinhos entre o jantar e o ir dormir (ou entre o tentar jantar e o adormecer em cima do prato), ando a dar corda aos dedos. Ou melhor, ando a dar trapilho aos dedos. E, claro, culpa das pesquisas para a quase-casa-nova, a IKEA foi a minha inspiração:

[imagem daqui]

Believe it or not, apesar de nas fotos parecerem penicos, ao vivo estão verdadeiramente engraçados.

Avó J., fui eu que fiz!

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