Eu reciclo! E tu?
Julho 08, 2009
Tínhamos uma televisão velha e definitivamente avariada em casa, a ocupar espaço e a servir de acumulador de pó. O marido ia despejá-la no contentor do lixo mas eu decidi dar voz à minha consciência ecológica e achei que a devíamos entregar para reciclar.
Andei com o trambolho no carro durante dois dias, até poder ir à grande área comercial daqui do burgo. Estacionei, fui à loja de electrodomésticos e perguntei se aceitavam monos para reciclar.
Não sabiam.
Mandaram-me ao balcão de atendimento central.
Fui.
Perguntei novamente.
- Não.
- Não?!
- Não.
- Mas não fazem recolha?!
- Só se tivesse comprado outro. Aí, sim, trazíamos o antigo.
- Mas não é preciso trazerem nada. Eu tenho a televisão lá em baixo, dentro do carro.
- Pois, mas nós não recolhemos. Pode é deixar no ponto electrão que está no estacionamento.
- Lá diz para só colocarmos electrodomésticos até cinquenta e cinco centímetros de largura. A televisão é maior. Aliás, é enorme.
- Então deixe no chão que eles levam.
- No chão?!
- Sim. Ou então chame a câmara municipal e deixe junto a um contentor do lixo.
- A ideia é reciclar, não é deitar para o lixo. Mas não a podem mesmo aceitar?!
- Não.
- Pronto. Obrigadinha.
Virei costas, incrédula com tamanha imbecilidade e fui para o carro medir a televisão. Sessenta centímetros de frente mas... quarenta e sete de profundidade. Estava decidido. Ponto electrão com ela!
Re-estacionei o carro perto de um dos tais contentores, abri a bagageira e tomei o peso ao mono.
- Ok, eu consigo.
Agarrei no monstro, levantei-o, dei dois passos atrás e os quarenta quilos passaram a quatrocentos.
- Eu... con... si... go...
Cambaleei até ao ponto electrão e, tal Hulk, consegui pousar a televisão na ponta da abertura. Virei-a pelo lado mais estreito e antes que me caísse em cima dos pés e me partisse os dedinhos todos, empurrei-a com grande genica ecológica lá para dentro.
CAABBBBBUUUUUUUUUUUUMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM
...
...
...
Senti uns duzentos e vinte e oito olhares dirigidos a mim. O contentor estava inesperadamente vazio e o som do aparelho em queda livre ecoou pelos dois pisos do estacionamento e ainda se ouviu na rua.
Na certeza de que o chão tinha ficado, no mínimo, rachado, fiz um ar à Mr. Bean, sacudi as mãos, limpei a camisola e fugi dali o mais depressa que pude.
Verde até à medula.