Tragédia nacional
O microondas avariou-se!
Recebo um mail de uma colega que vende cremes, perfumes e maquilhagem por catálogo e o meu outlook redirecciona-a imediatamente para a pasta de spam.
Outlook esperto.
- Epa, apertei-lhe a cabeça e saiu molho!
- ... pois... é o que costuma acontecer.
A comer camarão.
Sempre que a Mãe se ausenta de casa, nem que seja por uma única noite, o quadro eléctrico dispara.
Sempre que nós nos ausentamos, entra-nos um raio de um passaroco lá para dentro - não sei bem por onde (em desespero de causa, até a lareira já foi tapada) - que esvoaça assustado por todo o lado, deixando em consonância um belo rasto de furricas.
E as furricas secas são muito chatas de limpar.
Íamos a Paris.
Íamos a Paris ver a Torre Eiffel, os Champs Elysées, a Catedral de Nôtre Dame, o Palácio de Versailles, o Museu do Louvre, o rio Sena, a Disney.
Íamos gastar demasiado dinheiro, perder horas em bichas, esturricar sob o sol, comer coisas duvidosas, andar a correr, acabar cansados.
Fomos conhecer o centro geodésico de Portugal, passar por cima de cobras para chegar a praias fluviais, apanhar um escaldão nos braços, comer migas todos os dias, dormir pouco, andar de carro até fartar, cruzar-nos com o Ricardo Carriço e achar que não conseguíamos regressar a casa por causa do bloqueio dos camionistas.
Acabámos cansados, também, mas mais ricos.
Queixamo-nos do tempo que chove quando deve fazer sol, do frio que arrepia quando o calor nos devia despir, do trabalho que se transforma em spam, dos transportes que cheiram a chulé, do combustível que nos queima os bolsos, da crise que nos senta a ver as notícias, do cão que agora sofre de coprofagia, dos jantares que se fazem tarde, dos almoços que nos obrigam a sair da cama, da barriga que foge das calças, das calças que fogem do ferro de engomar, dos vizinhos que esticam as paredes, e depois
depois
há um Amigo que nos conhece mesmo antes de sermos gente, um quase-avô que nem sequer conseguimos imaginar como seria se não existisse, que há um ano tem sacos a passarem-se por bexiga e a quem agora um bombardeamento de raios-x destapou metástases num pulmão.
Apesar de toda a celeuma (celeuma é uma palavra bonita) com a lei do tabaco, os legisladores esqueceram-se de um ponto: as pessoas que fumam perto de crianças. É vê-las de cigarro aceso dentro do carro onde também viajam os filhos, é vê-las em nuvens de fumo com os bebés ao colo, é vê-las com os putos por uma mão e os cigarros pela outra.
A mim revolta-me.