Utopia

- Agora procure ficar num ambiente calmo, tranquilo, com pouca luz...

(AHAHAHAHAH, está a gozar comigo, não está???)

- Sim, Sr. Dr.

Ambiente calmo, tranquilo e com pouca luz. Ok.
Vou para casa.

O ser-peludo-que-vive-connosco começa a gritar/chiar/ladrar/guinchar (riscar o que não interessa ou deixar assim mesmo, já que ele faz isso tudo) ainda eu vou a meio da rua. Os gritos/chiadeiras/latidos/guinchos aumentam de volume e de intensidade quando me vê e perduram durante uns bons cinco minutos depois de eu ter entrado em casa e deixado de estar no raio de visão dele.

Ainda com os ouvidos a zumbir da recepção a que tive direito, olho para a pilha de roupa que tenho para passar a ferro. Penso na sopa que tenho de fazer. Nos papéis por arrumar. Nas ervas para arrancar.

Não. Pára. Descanso. Descanso!

Desço a persiana do quarto por forma a colocar aquela divisão a meia-luz. Visto o pijama e deito-me.

...

Toc, toc, toc, vrrrrruuuum, vrrruuuuummmm, VRRRRUUUUUUUMMMMMM. TRAAAAAZZZZ.

....

"Ah, num tá baum, nãoum...."

...

Descubro que os pedrasmen que também são tintasmen foram contratados pelos meus vizinhos. Para fazer obras num anexo que fica mesmo, mesmo colado ao meu quarto. Deixo-me estar deitada mas, sabe-se lá porquê, as marteladas - as deles e as minhas - não me deixam dormir.

Ao fim de algum tempo, decido levantar-me para ir tomar banho. Quando termino, apercebo-me que o barulho parou.

Yes, yes, é desta que consigo descansar um bocadinho a cabeça, penso.

Nesse instante, o ser-peludo-que-vive-connosco anuncia, com o seu ritual de gritos/chiadeiras/latidos/guinchos, a chegada do marido.

Olho para o relógio e vejo que já devia ter feito o jantar.

...
publicado por outrosdias às 10:37
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