No mesmo dia em que comprei as bolachas laxan... errrr... pseudo-alimentação-racional, fiz uma paragem algo demorada em frente às prateleiras dos géis (geles?) de banho.
Ao ler os rótulos das embalagens e apesar de nunca ter engolido muito bem aquela história da protecção da flora (e a fauna?) da pele, dei por mim à procura das tabelas de informação nutricional.
Comprei umas bolachas pseudo-alimentação-racional, daquelas que avisam que o consumo excessivo pode ter efeitos laxantes. Sempre me interroguei sobre o que seria, ao certo, "consumo excessivo", já que nunca notei efeitos, nem laxantes, nem de coisa nenhuma, à excepção, é claro, do efeito de satisfação da gulodice.
Estas bolachas, no entanto, devem ser diferentes. Descobri que a dose é um pacote.
entro na cama tentando não balançar muito as molas do colchão. encontro-te completamente envolto no lençol e edredões. todo tu és uma bola de roupa que emana calor. procuro um pedaço só teu, mas esbarro em tecido, espuma, algodão. mexes-te e murmuras qualquer coisa. perturbei-te o sono com a minha chegada. faço nova tentativa. descubro um pé fora da muralha e encosto o meu a ele. uma das mãos também escapou e aproveito para entrelaçar os meus dedos nos teus. deves estar numa posição estranha. de manhã, quase de certeza que te vais queixar de teres dormido torto.
Em acesa picardia fraternal via messenger, tento impressionar o irmão com a história da endoscopia. Ele não se deixa abalar e pede-me pormenores, muitos pormenores sobre o que vi e o que não vi. Estamos nisto durante alguns minutos até que eu, num verdadeiro volte-face, falo-lhe nas análises que tive de fazer, que foi tirar sangue até me doer a veia. O irmão responde-me com um "Ohhh... já caí ao chão... a imagem de uma agulha espetada...", seguido de várias linhas com reticências. Desfiro o golpe fatal ao sugerir tirar uma fotografia ao braço e enviar-lha: "NÃO!!!!!", "Vou desligar".
A hora de sono que me roubaram de sábado para domingo está a fazer com que chegue ao trabalho ainda a coçar as ramelas e, na altura de poder efectivamente dormir, esteja com a pica toda.
Arranjar sozinha uma placa-que-veio-da-Suécia que tinha força a mais nos bicos e uma máquina de lavar roupa que não fazia a hidroextracção como habitualmente é de deixar o ego inflado.
(se tivesse chamado um técnico para fazer a adaptação de uma e dar um jeito ao tubo de escoamento de outra, teria muito provavelmente pago 1 cêntimo pelo aperto do parafuso e 499,99 euros pelo saber que parafuso apertar... Oh yes, I'm good!)
que era (e é) uma otorrina. As caretas do costume ao ouvir a saga das aftoses. Achou que eu merecia uma endoscopia rápida e sem anestesia. Quem diria que um fio de esparguete enfiado no nariz pudesse causar tantos gemidos, reacções lacrimais, ameaças de espirros e hemorragias. Por pena ou incapacidade de realizar o exame por excesso de movimentações minhas, lá me concedeu umas sprayadelas em tudo semelhantes a um afogamento com sabor e cheiro a banana.
Nos diários da viagem ao jeito de "Era uma vez o corpo humano" ficaram registados a presença de uns "grandes cornetos" (juro que este ano ainda não comi um único), a inexistência (?) de adenóides ("Tirou os adenóides, não tirou?", "Não... nunca fui operada...") e a garganta "um pouco ulcerada" (deve ser por isso que me dói).
Encomendou-me uma folha-A-cinco de análises e parece-me que não foi pela letra à medico que na clínica onde as fui fazer demoraram mais de uma hora a identificar os códigos respectivos.
Daqui a três semanas, conhece-se o estado da nação.
O marido diz que quando falo, parece que tenho favas na boca. Não são do tamanho de favas e sim de ervilhas, mas incomodam e doem à mesma. Estão de volta à minha língua e amígdalas (ou talvez nunca se tenham ido embora).
E é estranho, se pensar muito nisso. Porque ou nos habituamos ou deixamos de reparar e aquilo entranha-se em nós, levanta-se connosco da cama, enrodilhado nos buracos do pijama, nas olheiras, nas preguiças. É como um casaco que se veste e que ninguém nota - nem nós - mas que está lá sempre. E passa a ser habitual - o vazio e o pleno -, sem doer nem mais nem menos. Fica-se apenas sentado, a meio caminho da ida ou do regresso, mãos escondidas nos bolsos, cheias de chuva, cheios de chuva.
Fiz uma nova amizade. Chama-se SE24M258EU, mas trato-a simplesmente por máquina. Ontem lavou-me um serviço inteiro de pratos e mais algumas coisinhas em apenas 20 minutos.
A cadela que a Mãe resgatou na praia em Dezembro ainda não tem os quatro meses feitos e já nos dá pelos joelhos. Arrasta os gatos pelo pescoço e eles deixam. Lambe a boca do outro cão quando ele chega molhado de água ou com farinha da ração e ele deixa. Está sempre às turras à cortina da porta para tentar deitar-se na pedra da soleira. Não há vaso, chinelo, roupa ou pá do lixo que lhe resista. Lança-nos uns olhares espertos e meio loucos que só provocam gargalhadas. Abana a cauda como se fosse um chicote. É desajeitada, atabalhoada e ainda não consegue coordenar muito bem todas as partes do corpo. Come às pressas tudo o que lhe pusermos à frente e rosna a quem se aproximar. E é meiga, meiga.
A cadela que a Mãe resgatou na praia em Dezembro era uma de sete irmãos.
Já contei, algures, que, enquanto adolescente, nunca fui de beijinhos, abracinhos, gritinhos e outros inhos que tal.
Depois de grande, dou por mim a desejar que me abracem e me façam festas no cabelo. Como se sentir o toque de outra pessoa me livrasse de todas as sombras e me tirasse o peso dos olhos quando acordo pela manhã.