Duas horas a gastar a sola dos ténis no Freeport de Alcochete. Compras: zero.
Meia hora e uma Ponte Vasco da Gama depois, chego à Baixa de Lisboa. Em menos de dez minutos e na primeira loja onde entro, encontro exactamente o que procuro.
As lentes para os óculos são taxadas com 5% de IVA. As armações com 21%.
Ou seja: as lentes são consideradas um bem essencial mas as armações não. Como a fita cola também está no saco dos 21%, não sei bem qual é a alternativa que o nosso governo oferece a quem necessita de óculos para o dia-a-dia. Segurar as lentes com as mãos, talvez?
Há dias em que me lembro. E dói, como sempre doeu, debaixo da pele, um ardor entre o sentimento racionalizado e o impulso que não se conta a ninguém.
E há dias – a maior parte deles – em que nem sequer penso nisso. Porque é afinal, como sempre foi: um estar sem estar, uma latência à qual não sei dar destino. Mas o ardor, esse, nunca desaparece.