Acendo a luz do tecto. Acendo a luz da mesa de cabeceira e apago a outra. Encosto a porta. Abro a cama, deixando a descoberto um triângulo de riscas azuis. Sento-me. Descalço os chinelos, primeiro o pé direito, depois o pé esquerdo. Com a mão, levanto o lençol e os edredões e entro na cama. Apago a luz. Deitada de barriga para cima, aconchego-me. Permaneço assim até deixar de sentir frio. Viro-me para o lado. Volto a aconchegar-me. Coloco uma mão sob a cara e outra entre as pernas ligeiramente flectidas. Fecho os olhos, para adormecer. Há um burburinho manso e quase inaudível ao fundo.
É então aí que me apercebo. E aquilo atinge-me de forma brutal, violenta.
Os dias, a existência, o mundo, tudo se resume ao passar do tempo. Aos minutos e às horas que escorregam de um lado para o outro da ampulheta. Até ao momento em que deixa de haver tempo e tudo acaba.