Congelo sopa em caixas (reaproveito as de gelado porque são as ideais para tal tarefa: deformam-se dentro da arca e recuperam admiravelmente a estrutura original uma vez colocadas à temperatura ambiente, podendo ser deitadas fora (no lixo não... no ecoponto!) sem qualquer remorso caso se rompam ou fiquem velhas demais). Este método que adoptei serve dois propósitos. Um é óbvio: a conservação da sopa que tanto trabalho me dá a fazer todas as semanas (uma panela de sopa azeda deixa-me desmoralizada durante um mês). O outro, igualmente óbvio, é poder comer sopa mesmo quando não me apetece andar a confeccioná-la todas as semanas.
Gostava de fazer o mesmo com os dias ou com as semanas ou até com os meses. Congelá-los para ter alguns de reserva quando não me apetecesse vivê-los.
Ontem ao final da tarde, andava eu à procura de um sítio para estacionar quando reparei num simpático senhor que se preparava para sair com a sua viatura. Parei, à espera que o simpático senhor deixasse o lugar vago. Como o simpático senhor ia em sentido contrário ao meu, reduzi os faróis do carro dos médios para os mínimos. Não queria encandear o simpático senhor durante as manobras a meio da estrada. O simpático senhor lá torceu e destorceu o volante, colocou-se a jeito e, antes de seguir viagem e tendo reparado no meu gesto, decidiu agradecer-me. E como me agradeceu o simpático senhor, perguntam vocês:
- Como te agradeceu o simpático senhor?
O simpático senhor agradeceu-me fazendo-me sinais luminosos. Com os máximos. Cinco vezes, em cheio nos meus olhos. Simpático, não foi?
Cheira a lareiras. Apetece-me descobrir a casa de onde parte o cheiro, bater à porta e pedir para me deixarem sentar um bocadinho a olhar para o calor. Assim, só.
( fiz diagonais, perpendiculares, tangentes e figuras geométricas abstractas na cama
(a trigonometria incompreendida persegue-me, desculpe lá s'tora)
, ouvi a chuva
(choveu, não foi?)
, levantei-me para ir tomar os fármacos da época
(fármaco lembra-me sempre uma farm de micróbios, bactérias e vírus... um genérico no verdadeiro significado da palavra é que era, um que curasse tudo, fosse que malfosse)
, tricotei novelos com as pernas e os braços do marido
( :-) )
, contei as festas que não fiz ao ser-peludo-que-vive-connosco
(uma palmadinha nas costas ou umas cócegas no pescoço, o segredo para o conquistarmos para toda a vida)
Ao descobrir os prazeres de comer pão com sementes, dou por mim a debicar as sementes e a deixar para o fim o pão propriamente dito. Mentalmente, interrogo-me se não venderão só as sementes. Auto-resposta imediata: sim, vendem... nas lojas de animais e chama-se alpista.