É um produto e como todos os produtos, há que vendê-lo. E goste-se ou não (a televisão lá de casa às vezes pára nesse canal e eu vejo), a verdade é que está a ser muito bem vendido e muito bem comprado.
Mas houve sempre uma coisa que me intrigou: a letra de uma das músicas. De tal forma que fui ao site oficial. Ora atentem lá neste excerto de "Pobres dos Ricos":
Não tenho nada Mas tenho, tenho tudo Sou rica em sonhos E pobre, pobre em ouro
Pois não me importa Pois só por ter dinheiro Não compro amigos, estrelas Um amor verdadeiro
"Pois só por ter dinheiro não compro amigos, estrelas, um amor verdadeiro"? Quer dizer que se tivesse outras coisas (outros dinheiros), os amigos, estrelas, etc., etc. já eram compráveis?
(e agora vou ali meter a cabeça dentro da sanita para ver se consigo deixar de cantarolar isto)
Os bichos estão a vencer. Pedi ajuda aos Aliados e vou bombardeá-los com antibiótico de oito em oito horas. Espera-se a reconquista das minhas vias respiratórias para breve.
Sexta-feira terminou com o bidé no meio da sala e o Sr. Canosman sentado no chão a maldizer a sua sorte. Foi dia de comprar um novo e utilíssimo conjunto de torneiras novas e mas também foi o dia em que, ao fim de três semanas, voltámos a saborear o prazer dos banhos quentes domésticos.
Sábado terminou com o Sr. Canosman sentado na beira da banheira com a parte de cima do lavatório no colo, a descolar os pedaços de azulejo que vieram agarrados à loiça (ie, foram arrancados da parede) durante o desmontamento.
Domingo terminou com o Sr. Canosman a dar a obra interior por concluída e o marido de lanterna numa mão e chave de boca na outra, à caça de fugas.
Fora um ou outro pinguito, não contando a piscina que tenho no armário debaixo do lava-loiças, ignorando o barulho fantasmagórico que invade o quarto sempre que se abre uma torneira e tirando o facto de ter que lavar os dentes no bidé porque o lavatório não se encontra operacional, posso dizer que a coisa até está a correr bem.
Quem está contente é o esquentador, que voltou a fazer parte do nosso dia-a-dia. Olé!
O Sr. Canosman que está a protagonizar a primeira travessia trans-doméstica cozinha / casa-de-banho via pipeline inox trabalha devagar, devagarinho e faz três horas de almoço. Mas o cabo das tormentas está prestes a ser contornado e por todo o lado já se ouvem aleluias de contentamento. Hot water is coming, my friends!!
- Então, estás melhor? - Tenho a garganta toda lixada... - Não estou a falar disso... isso é uma doença, daquelas que passam ao fim de uns dias. - ... as da cabeça também. - Às vezes não.
A mãe diz que admira a minha coragem por andar há três semanas com o "saco-do-banho" no carro. Diz que se fosse ela, aquecia a água e tomava banho de "jarro", só para não ter de sair de casa.
Eu respondo-lhe "claro, claro" e deixo-me ficar mais uns minutos a sentir a água quente do chuveiro a descer-me costas abaixo.
Serei só eu que sei que nos cursos de informática NÃO ensinam a reparar ou a colocar em funcionamento quadros eléctricos, impressoras, scanners, fotocopiadoras, projectores, portas de armários, faxes, telefones, máquina de água, ventoinhas e afins? E que estas não são capacidades inatas e inerentes a qualquer crominho dos computadores?
A minha garganta foi invadida por bichos. O meu nariz também. Ninguém os convidou, mas eles parecem sentir-se muito confortáveis. Estou esperançosa que doses cavalares de rebuçados, ilvicos, leite quente e mel os consigam desalojar. De preferência antes que eu sofra uma overdose de açúcar.
O Sr. Canosman que, após longas e demoradas buscas, se propôs a devolver-nos o prazer de tomar banhos fumegantes em casa por um valor que não nos fizesse ir logo a correr à imobiliária mais próxima à procura de outro lar, doce lar acha que eu preciso mais de ter água quente no lava-loiças do que na banheira.
Não me posso esquecer de agradecer à minha mãe o meu ar lavadinho.
A organização do Madrid Fashion Show proibiu a participação de modelos excessivamente magras.
Acho muito bem que o Índice de Massa Corporal passe a ser um requisito para desfilar por essas passarelas fora. E vou mais longe – a exigência de um patamar mínimo de IMC* devia ser extensível a várias outras classes profissionais. O país funcionaria, certamente, muito melhor.
Para homónimo do astro-rei, não está mau. Está, aliás, bem conseguido. Notam-se muitos traços do "Expresso", o que não é necessariamente negativo. O nome presta-se a inúmeros trocadilhos, com segundos, terceiros e quartos sentidos (prestáveis e imprestáveis). O site é (muito) lento. Desiludiram-me as páginas finais, com caixas vermelhas e títulos a branco, a fazer lembrar "O Crime" ou "O Diabo". Mas achei genial a frase que está na primeira página, no topo, à direita:
"Este semanário não oferece brindes nem faz promoções"
Eu, acenando o papel: Recebi esta carta em casa, a dizer que podia vir buscar o meu cartão de utente. Funcionário, com ar de enfado: É só até às 17 horas. Eu, acenando o papel com mais convicção e mostrando o meu sorriso número trinta e sete: Aqui diz que é até às 18 horas. Funcionário, apontando para o relógio, que marca 18h02: Já passa das 18 horas. Eu, com o meu sorriso número trinta e oito: Quando cá cheguei, faltavam cinco minutos para as 18. Funcionário, continuando a apontar para o relógio: Mas agora já passa. Eu, com o meu sorriso número trinta e nove: Se quiser, volto cá amanhã. Funcionário, ainda enfadado mas agora espantado com o meu vasto leque de sorrisos: Não, não, deixe estar. Dê cá o papel.
Um minuto depois deste violento confronto enfado vs sorrisos e após ter passado setecentos e setenta e sete dias com uma folha A4 carimbada a azul dobrada na carteira, tinha nas mãos o mais bonito cartão do Serviço Nacional de Saúde que já vi na vida: o meu!
Há setecentos e setenta e seis dias atrás, estava bom tempo, fazia sol, corria uma brisa agradável. Lembro-me bem porque foi o dia em que tomei uma decisão muito importante: pedir o meu cartão de utente do Serviço Nacional de Saúde. Todas as pessoas que eu conhecia tinham um e eu achei que era giro ter também o meu, com o meu nome e o que mais lá quisessem pôr. Dirigi-me ao Centro de Saúde da minha área de residência, falei com quem tinha de falar, disse o que tinha de dizer, assinei onde tinha de assinar e em troca recebi uma folha A4 que, enquanto o cartão não chegasse, serviria de substituto. A folha era muito prática, dava para ser dobrada várias vezes, cabia na minha carteira e até tinha um carimbo azul. Quase me atrevo a dizer que era bonita (quase, quase).
Setecentos e setenta e seis dias depois, por detrás da porta ferrugenta e ensopada da minha caixa do correio descubro uma carta que diz que o cartão está pronto e que o posso ir buscar.
Tenho pena de me desfazer da folha A4 com o carimbo azul, mas nada se compara à felicidade que sei que irei sentir quando, finalmente, segurar nas mãos – trémulas de emoção, certamente – o meu tão desejado e já sebastiânico cartão do SNS. Serei, enfim, uma pessoa realizada.
(para os mais curiosos, setecentos e setenta e seis dias equivale a dois anos, um mês e quinze dias)