Não vale a pena tentar camuflar a coisa e dizer que era "apenas cansaço" ou "desânimo" ou qualquer outro sinónimo tirado da mesma gaveta das verdades absolutas: arrastei-me para as férias com um princípio de depressão. Princípio de depressão e ponto final.
Ao fim de metade das possíveis quatro semanas fora do ambiente habitual, consegui esquecer-me-los. Isolei-me em mim e de mim, trancando do lado de fora o mundo, as pessoas, os sentimentos, a tristeza, a ansiedade, o desamparo. Depois de quatro semanas vencidas, regressei ao quotidiano, agarrando-me como uma junkie à tranquilidade e ao cimento com que colei os meus bocados. Receei ser, passados três dias, novamente chutada para a casa Partida. Os três dias ainda não terminaram, mas até ao momento, mantenho-me em jogo. Não me saiu mais nenhum "doble" e o cimento já tem algumas rachas, mas cá vai resistindo. Apertado, junto ao coração, na esperança que supere todas as provas.
Das férias guardo o sol a pôr-se, vermelho vivo, na planície estendida sob os meus olhos. Guardo os ténis sujos de pó dos caminhos, os calções amarrotados e os tótós no cabelo. Guardo as horas esquecidas, os equilibrismos na bicicleta com 40 graus à sombra e as fotografias sempre a tiracolo. Guardo os pés descalços, o fato-de-banho a secar nas costas da cadeira e o húmido da maresia. Guardo os amigos, as gargalhadas e a preguiça das sestas. Mas guardo, sobretudo, os sorrisos que ouvi de mim. E espero conseguir lembrar-me deles durante muito, muito tempo.