Sexo fraco
O marido foi arrancar um dente o siso e eu preparei-me para vestir a pele de enfermeira a transbordar paciência para um bébé-grande-chorão,-infeliz,-um-bocadinho-hipocondríaco-e-com-a-cara-inchada quando chegasse a casa. Encontrei-o surpreendentemente alegre, a rir, rosto em forma de batata e cantos da boca vermelhos e meio esfolados. De um só fôlego e maxilares semicerrados, com uma compressa enfiada quase até às goelas, contou-me que passou uma hora e cinquenta minutos sentado na cadeira do dentista, que perdeu a conta às radiografias tiradas, que só via sangue, sangue, sangue, que o médico quase se empoleirou em cima dele para conseguir fazer força, que o dente teve de ser partido para sair e, mesmo assim, ficaram uns bocadinhos de raiz (aparentemente inofensivos), que chamaram outro dentista para dar uma opinião
e eu só tenho tempo de me sentar na beira do sofá, o nervo vago a pregar-me uma partida, tudo enevoado, suores frios, as forças a irem-se, o estômago não lanchado a querer sair e
- Cala-te que estou a ficar mal-disposta.
e eu só tenho tempo de me sentar na beira do sofá, o nervo vago a pregar-me uma partida, tudo enevoado, suores frios, as forças a irem-se, o estômago não lanchado a querer sair e
- Cala-te que estou a ficar mal-disposta.